sábado, 10 de março de 2012



10 de março de 2012 | N° 17004
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


30 anos do Galpão Crioulo

O programa Galpão Crioulo da RBS TV não é um programa de televisão. Pelo menos, não é apenas um programa de TV. É uma comunhão de espírito, um esforço conjunto de uma equipe altamente treinada, verdadeiramente profissional, mas com um forte laço de família, com muito amor fraternal. Faço mal em dizer isso, porque sou parte dessa equipe, o mais antigo, remanescente dos velhos tempos da TV Gaúcha.

No início foi um sonho generoso de um grande homem de TV, Alfredo Fedrizzi. Eu era apresentador de “penhas” gaúchas no 35 CTG, sob o comando de Eri Assenato, quando fui chamado pelo Fedrizzi para um teste como apresentador de um programa, já com o nome de Galpão Crioulo – aproveitando a crescente popularidade de artistas gauchescos que brotavam no Rio Grande do Sul ao sabor dos festivais da canção nativista. Fiz o teste e, para minha surpresa, o “teste” foi para o ar – esse foi o primeiro programa de uma série que hoje passa do número mil.

No começo, o programa era gravado no estúdio, em um cenário preparado pelo grande Ricardo Camaquã: um bolicho de campanha. Muitos anos mais tarde, houve a ideia de se transmitir o programa ao vivo desde o interior do Estado. A cidade escolhida foi Cruz Alta, durante o Festival Coxilha Nativista.

Passaram pelo Galpão Crioulo grandes nomes do Rio Grande do Sul (os maiores), do Brasil e até do Exterior. Sérgio Reis, Jair Rodrigues, Almir Sater, Mercedes Sosa, cantores cowboys dos EUA, cubanos e até índios xavantes.

Do Rio Grande, artistas que deixaram saudade, como Teixeirinha, Gildo de Freitas, César Passarinho, Leopoldo Rassier, Glaucus Saraiva, Barbosa Lessa e Darci Fagundes, e nomes de gente muito grande que está entre nós: Paixão Côrtes, Leonardo, Berenice Azambuja, Luiz Carlos Borges, Borghetti, Mário Barbará, todos os Fagundes.

Em 1999, uma figura extraordinária se juntou à equipe: Rosana Orlandi, com sólida bagagem de TV e um grande amor pelas coisas do pago – tem fortes raízes em Itaqui. Logo depois, chegou Fernando Alencastro, o produtor, cuja exigente competência não disfarça a ternura que tem por nós.

Em 2000, um AVC me retirou do ar (quase me retirou do mundo) por muitos meses, então tive o bom-senso, já na maca, sem saber se voltava, de pedir à Alice Urbim que convidasse o Neto Fagundes para me substituir.

Conheço o Neto desde o dia em que ele nasceu. Como cantor, ele já havia se apresentado inúmeras vezes no Galpão Crioulo e já era popular, mas, como apresentador, ele revelou qualidades que só a família conhecia: uma simpatia cativante, o improviso fácil, a fala impecável, um bom humor incrível e uma capacidade de atrair crianças que é quase magnética.

As crianças têm pelo Neto uma verdadeira adoração, talvez porque no fundo ele continue sendo aquele gurizão alegre do Alegrete. O Neto tem uma qualidade que é só sua: anonimamente (tanto quanto possível, apresentador de TV que é), ele pega o seu violão e vai visitar doentes terminais nos hospitais de Porto Alegre, cantando, trazendo uma palavra de conforto, um gesto de amor.

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