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sexta-feira, 2 de março de 2012
02 de março de 2012 | N° 16996
DAVID COIMBRA
Salvem os saquinhos plásticos
Em algum tempo, estaremos vivendo em um mundo sem saquinhos plásticos. Um erro. Uso saquinhos plásticos para muita coisa. É úmido e descartável? Vai para o saquinho plástico. Lixo de pequena monta? Saquinho plástico. Uma vez, jogando bola, torci o tornozelo e tinha de pôr gelo sobre o ferimento. Como acondicionar o gelo? Em um providencial saquinho plástico.
Atrás da porta da minha cozinha está pendurada uma grande sacola de pano. Nela guardo os sempre úteis saquinhos plásticos. Quando a sacola está ficando vazia, me dá uma inquietação, uma ânsia. Penso que preciso correr ao supermercado para fazer compras. Nem tanto para reabastecer a despensa, mais para renovar o estoque de saquinhos plásticos.
Você jamais verá o Eike Batista ou a Gisele Bündchen com um saquinho de súper pendendo do pulso, óbvio, pessoas ricas e sofisticadas não andam por aí com saquinhos plásticos. Mas os pobres e humildes necessitam deles. Dos saquinhos plásticos, não de Eike e Gisele. Vá ao centro e você verá, subindo ou descendo do ônibus, uma senhora carregando um saquinho plástico com sabe-se lá que mantimentos dentro.
Mas parece que os saquinhos plásticos fazem muito mal à natureza. Nunca vi um saquinho plástico boiando no rio, no mar ou em quaisquer águas. Já vi até sofás, e não sou contra os sofás, nem sei de quem seja. Mas o futuro dos nossos filhos depende do fim dos saquinhos plásticos.
É o que dizem os ecologistas. Eles querem extinguir os saquinhos plásticos, como um dia quiseram extinguir as fraldas descartáveis. O conforto das mães, porém, foi mais forte do que o amor ao planeta, e as fraldas continuam cingindo as ilhargas das criancinhas em todo o mundo, numa afronta à lógica ecológica.
Os ecologistas. Há pouco eles fizeram um congresso de ciclistas. Horas e horas falando sobre a bicicleta. Artigos escritos e publicados em jornal. Existe isso, agora, ciclismo. Um movimento. Um partido. Um ismo. E os ciclistas se opõem aos motoristas. Se você dirige carro, evidentemente é contra quem pedala uma bicicleta. Se você aplaude a construção de uma usina, você é um Custer, você quer eliminar os índios.
Os índios. Ecologistas, artistas de TV e músicos querem viver como os índios, pregam que viver como índio é a solução para a natureza. A Rita Lee pede a Deus para um dia se transformar em índio e “tomar banho de sol, banho de sol, banho de sol”. Mas índio não usa protetor solar. E o câncer de pele? Devo acreditar em Rita Lee ou em Pedro Bial?
Não, não, não. Nada disso. A saída está no outro lado, na porta oposta àquela apontada pelos indicadores rijos dos ecologistas, dos artistas de TV e dos músicos. A saída é a tecnologia. O controle da natureza, não a submissão a ela. Bicicletas e carros, fraldas descartáveis e rios limpos, índios e usinas hidrelétricas, tudo pode existir no mesmo mundo, sem oposição, racionalmente. A razão é a saída. Até para quem não quer ver a extinção trágica do saquinho plástico.
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