sexta-feira, 2 de março de 2012



02 de março de 2012 | N° 16996
ARTIGOS - Jaqueline Fraga Ricacheski*


Ler, ouvir e pensar

Minha profissão exige que eu seja uma boa leitora, principalmente leitora do mundo, ser boa ouvinte também é parte importante no meu ofício.

Li na Zero Hora do dia 17 de fevereiro deste ano um artigo de opinião escrito por um educador. Ele discorreu sobre a tarefa dos pais em educar e acompanhar seus filhos, serem presentes na sua vida escolar. Ao mesmo tempo, tratou também da autoridade do professor, da sua importância nas demandas educativas e na dificuldade que tem sido exercê-la.

Minha interpretação é que as famílias, por não conseguirem dar conta de suas responsabilidades, terceirizam, sobrecarregam a escola, os professores, que não têm o dever ou tarefa de educar, e, quando são chamadas às instituições pela postura inadequada de seus filhos, não aceitam, apontam inúmeras culpas e/ou desculpas, se eximem, tornando-se recorrentes esses contatos, simplesmente optam pelo caminho mais curto e mais perigoso, a saber, buscar outro espaço educativo.

Ouvi um colega e amigo, acadêmico de Direito. Relatou-me que seu professor de Direito Penal acredita, pela sua experiência nessa área, que num futuro bem próximo aumentarão os casos de crimes passionais. Era este o tema inicial da nossa conversa. Continuando: os indivíduos estão lidando cada dia mais mal com suas frustrações, suas situações-limites, reagindo de forma bastante violenta, muitas vezes letal, por puro descontrole.

Juntei o que ouvi com o que li, e pude estabelecer uma conexão. Terceirizar a educação dos filhos da forma que tem ocorrido, resulta, em muitos casos, no dilema dos pais em dizer sim ou não, a escolha pelo sim na maioria das vezes, a ausência de modelos, regras, limites, pode, sim, originar um adulto despreparado para ser contrariado, levando-o a resolver seus impasses da forma menos eficiente e mais amarga.

Não quero aqui criar uma imagem de fatalismo, ou que tal ação desencadearia irremediavelmente outra, num processo determinista de comportamentos. Não é esta a questão. Acredito que é preciso pensar cada vez mais sobre tudo isso. Pais, filhos, escolas, poderes instituí- dos, sociedade, haver uma ampla discussão, franca, sem melindres, sem medo de lidar com a frustração. Temos acompanhado pela mídia exemplos de debates que têm desencadeado ações positivas, alterando mentalidades e revertendo posturas.

Minha profissão exige que eu leia, escute, fale, escreva e pense sobre este mundo. Sou professora!

*Professora

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