quarta-feira, 9 de julho de 2008



09 de julho de 2008
N° 15657 - Paulo Sant'ana


Unhas de fora

Não concordo, amavelmente, com os jornalistas e com todas as pessoas com quem encontro na rua que dizem que não gostaram do debate entre os candidatos à prefeitura da Capital realizado no domingo à noite pela TVCOM e pela Rádio Gaúcha.

Respeito as opiniões em contrário, mas achei o debate excelente.

Esteve excelente o Onyx Lorenzoni. Esteve excelente a Maria do Rosário, o mesmo com Luciana Genro.

Marchezan Jr. se saiu muito bem. Manuela DÁvila foi convincente. E, no seu estilo, o Paulo Rogowski se saiu bem.

Sem falar no prefeito Fogaça, que tem experiência parlamentar vasta e é afeito a debates.

Eu acho que todos que tacharam o debate de morno e sem ousadia dos candidatos são muito exigentes, até há uma parte do público que quer ver sangue no debate, os participantes se agredindo e discussões incendiárias.

E todos com quem falo alegam que não houve idéias novas, que se tratou de mais um evento político-eleitoral sem impacto.

É que as pessoas andam desiludidas com a política. E talvez sonhem em que apareça um grande líder popular que conduza suas esperanças.

Isso não é bem assim. Messias como Jânio Quadros não surgem mais.

O que é que eu vi no debate que o considerei excelente?

O que se tem para discutir foi discutido, a passagem de transporte coletivo única, a governança solidária, a habitação popular, os meninos de rua, as creches, o aproveitamento do porto, o trânsito, enfim tudo que interessa à edilidade.

O prefeito José Fogaça foi fustigado por ataques de todos os outros candidatos. Natural, ele é o atual detentor do cargo e todos querem substituí-lo. Mas Fogaça ficou tonto com tantas críticas.

Há um problema quando um detentor do mandato é participante do debate: recebe uma saraivada de críticas dos outros candidatos e fica a pedir direito de resposta.

Nem os organizadores do debate podem conceder direito de resposta a cada pedido do prefeito nem o prefeito se sente satisfeito em ficar em silêncio enquanto pipocam no debate as críticas à sua administração.

Ao telespectador e ouvinte, resta a impressão de que o prefeito está se omitindo ao não responder às críticas, mas é a regra do debate que não permite a ele a resposta imediata à censura. Se fosse fazê-lo, iria privilegiá-lo no tempo de participação, pois não é só a sua administração que está sendo criticada?

Essa questão técnica se dá quando há um candidato à reeleição num debate.

Se não há candidato à reeleição, ele não tem como pedir direito de resposta.

E se há candidato à reeleição e se fosse concedido a ele direito de resposta, como a proporção de críticas a ele é de duração de cerca de 50% do debate, ele ficaria com metade do tempo do debate à sua disposição e isso caracterizaria uma desigualdade.

Luciana Genro levou duas cartas na manga para atrapalhar a vida de suas duas rivais femininas.

Primeiro, perguntou a Manuela DÁvila o que ela achava do aumento nos vencimentos da governadora em 143%.

Manuela respondeu que era uma barbaridade.

Então Luciana completou sua armadilha: "Então, como é que a senhora votou por aumento dos deputados, o seu próprio aumento?".

E o outro ardil de Luciana, desta vez para Maria do Rosário: o que ela achava da corrupção no Departamento Municipal de Limpeza Urbana?

Maria do Rosário desancou a corrupção no DMLU.

E Luciana: "E como a senhora explica o mensalão, com os dirigentes do PT, inclusive José Dirceu, envolvidos?".

Ou seja, elas são amigas, são colegas, se tratam cordialmente, mas na hora do debate põem as unhas da fora.

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