quarta-feira, 9 de julho de 2008



09 de julho de 2008
N° 15657 - Diana Corso


Família Maionese

Há um comercial de maionese Heinz na TV inglesa no qual um homem prepara algo na cozinha, quando se aproxima um garotinho e faz um pedido à mãe.

O homem vira-se, a pergunta era para ele. Na seqüência, chega uma menininha que também o chama de mãe e recebe dele um sanduíche para a escola, como o irmão.

Por último, um homem de terno e pasta, despede-se com um "até a noite amor" e escuta: "você não está esquecendo alguma coisa?" . Eles trocam um selinho e o primeiro arremata com um "eu te amo". (veja no: http://www.youtube.com/watch?v=Xl0bkv0jCCM)

Você já viu esse comercial muitas vezes, só que costuma ser de margarina e a mãe é uma mulher. Das propagandas de TV, essa é do tipo mais tradicional, daquelas que fazem sentir-se um peixe fora dágua a todos os solteiros, separados, viúvos, gays, ou que não têm a conformação familiar clássica. A "família margarina" parece ser a coisa certa e todo o resto, marginal.

Já a propaganda da maionese foi tirada do ar devido a protestos do público. A razão alegada era que o beijo homossexual seria ofensivo às crianças.

Não acredito nisso, acho que o comercial todo é uma afronta a esse sistema de incluídos e excluídos do clichê familiar. Também seria estranho se a criança que se dirige à mãe fosse branca e a mãe, negra, por exemplo. Só que neste caso ninguém se autorizaria a dizer nada, porque o preconceito racial, assim como o relativo à adoção, não são confessáveis.

O selinho não é um ultraje, é o amor entre pessoas do mesmo sexo que ainda é considerado ofensivo, é a colocação de um homem no papel materno que confunde as idéias do público.

É duro saber que o dom para ser pai ou mãe não vem junto no acervo biológico recebido, um homem pode ser ótima mãe e uma mulher, uma catástrofe no papel. Tampouco está garantido que alguém do mesmo sexo nunca nos abalará.

O que fazer com a homossexualidade latente que todo mundo tem e se manifesta através de ciúmes obsessivos? A propaganda foi censurada porque deixou o público atrapalhado.

Hoje as relações estão menos estáveis, mas ao invés de abandonar a conformação tradicional, as pessoas insistem, casam-se muitas vezes e constituem não uma, mas várias famílias que se sucedem e superpõem.

Os homossexuais oficializam suas uniões, do jeito que a lei local permite, e formam famílias. A "família margarina" já não é uma reserva de mercado dos heterossexuais. Queira ou não, um dia você vai ter que se acostumar...

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