terça-feira, 8 de julho de 2008



08 de julho de 2008
N° 15656 - Paulo Sant'ana


Um acordo bem fechado

Continua repercutindo em toda parte o furo mundial desta coluna de que o resgate da ex-senadora Íngrid Betancourt foi uma farsa, uma encenação.

No site do jornal de Bogotá El Espectador, os leitores troçam e fazem bromas sobre a versão de que foi uma operação modelo de resgate. Dão gargalhadas.

Os colombianos moram na aldeia e conhecem os caboclos.

Eles sabem perfeitamente que é impossível que os reféns tivessem sido resgatados da forma como foi divulgado.

Os colombianos que se comunicam com o site, em grande maioria, sabem que houve negociação entre o governo e os guerrilheiros e zombam da encenação que se fez na chegada dos reféns a Bogotá, os chefes militares posando ante as câmeras de televisão e dos fotógrafos como autores da maior façanha contra as Farc de que se tem notícia.

Sabe-se agora porque, 24 horas após esta coluna ter opinado que tinha sido uma encenação, uma rádio suíça divulgou para o mundo que houve um negócio, envolvendo milhões de dólares, mediante o qual foram liberados os reféns, sem qualquer ação militar que não fosse a entrega singela dos reféns às forças legalistas.

É que um suíço, chamado Gontard, é um dos emissários europeus que se reuniram com Alfonso Cano, o chefe supremo das Farc, para entregar ao comandante guerrilheiro "uma proposta contendo um eventual acordo sobre a liberação dos reféns".

"Com el beneplácito del gobierno colombiano (que ya conocía su historial de compincheria com la guerrilla", segundo ElTiempo.com.

Afirma o jornal colombiano: "Parece ser o suíço Gontard alguma espécie de tesoureiro ou mandante. O que terá Gontard negociado com Cano e os europeus? Foi fechado o acordo? De que há gato na tuba, há gato na tuba".

Ontem, o programa Polêmica, apresentado pelo Lauro Quadros na Rádio Gaúcha, debateu o resgate de Íngrid e dos outros 14 reféns. E fez a pergunta: o resgate foi uma operação militar bem-sucedida ou uma encenação negociada?

Dos mais de 300 ouvintes que responderam à pergunta, 66% declararam que foi uma farsa e somente 33% disseram que foi uma operação modelo.

Ou seja, não são só os colombianos que garantem ter havido uma encenação, os gaúchos também. Talvez influenciados por esta coluna, mas ninguém está dando crédito à versão oficial.

Como poderia o autor desta coluna não ter desconfiado?

Foi assim que os leitores desta coluna tiveram a primazia mundial de conhecer a verdade sobre o histórico acontecimento.

Com esta coluna é assim: os seus leitores podem ter a garantia de que conhecerão a face verídica dos fatos antes que em outro lugar qualquer.

Tenho recebido mensagens de felicitações pela minha imediata interpretação do misterioso e intrigante resgate.

Independentemente disso, cumpro dizer que não importa como foram libertados os reféns, o que interessa é que foram libertados. Foi gente que sofreu durante anos no cativeiro.

E valeu o esforço de vários governos para resgatá-los.

Não interessa que foi sem nenhum tiro o resgate. Ou melhor, houve um canhonaço de US$ 20 milhões, segundo se noticia.

E no final as minhas suspeitas ingentes de que tinha havido um negócio para libertar os reféns nasceram num principal detalhe: foi o primeiro seqüestro em toda a história em que um refém apareceu saudável e dando entrevistas no dia do resgate.

E depois de seis anos de cativeiro.

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