sábado, 5 de julho de 2008



05 de julho de 2008
N° 15653 - Nilson Souza


A máquina do apocalipse

Li uma reportagem sobre o acelerador de partículas que os cientistas pretendem acionar na Suíça antes do final do ano e me veio à cabeça este verso de Jorge Drexler, que nos próximos dias se apresentará em Porto Alegre:

"No somos más/ que una gota de luz,/ una estrella fugaz,/ una chispa, tan solo,/ em la edad del cielo..."

Somos mesmo quase nada diante da grandiosidade do universo, mas somos bem pretensiosos. Agora mesmo, vamos tentar reproduzir na experiência científica referida o momento da criação do mundo, por meio do experimento mais ousado da história da física.

A idéia é recriar, num gigantesco equipamento enterrado no solo europeu, o badalado Big Bang - a explosão inicial que a ciência identifica como origem de tudo o que existe, em contraposição ao criacionismo religioso.

O que buscam os cientistas com o tal acelerador? Um troço inimaginável para qualquer cérebro normal. Uma coisa ínfima conhecida pelos físicos como "Bóson de Higgs", que seria a partícula original da transformação de energia em massa.

Segundo li, o tal bóson, se aparecer, não durará mais do que algumas frações de segundo. Mas será o suficiente para comprovar a teoria científica da criação explosiva do mundo. Os especialistas em átomos estão bem excitados.

Mas já apareceram alguns agourentos para dizer que pode dar tudo errado, que o tal acelerador tende a criar um buraco negro capaz de engolir tudo o que já foi criado.

Ou seja: uma vez acionada a máquina do começo do mundo, produziria o seu fim, seríamos todos sugados para a invisibilidade eterna, levando conosco o planeta inteiro, casas, automóveis, cidades, continentes, a Lua, as estrelas, a galáxia inteira.

Dizem os especialistas que os tais buracos são terríveis e insaciáveis, concentram tamanha força gravitacional que nem a luz lhes escapa. Ou seja, até o final do ano poderemos todos ser condenados a viver para sempre na escuridão.

Vá entender uma maluquice dessas!

Prefiro a teoria romântica de Jorge Drexler. Não somos mais que uma piada de Deus, diz o inspirado cantor uruguaio na sua bela canção Edad del Cielo. Ele certamente vai cantá-la no próximo dia 21, no Teatro do Bourbon Country.

Acho que devemos ir lá, antes que o acelerador do apocalipse seja acionado.

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