sábado, 5 de julho de 2008



05 de julho de 2008
N° 15653 - Paulo Sant'ana


O abismo da idade

Entre todos os tipos de cartas que recebo, o que mais me tem comovido nesses quase 40 anos de jornalismo é o daquelas pessoas que se declaram desempregadas, não há forma de conseguirem emprego, atribuindo claramente isso ao fato de terem em torno de 50 anos de idade.

Corta o coração ver pessoas que estão no auge de sua capacidade produtiva, que ostentam experiência profissional invejável, e no entanto são recusadas no mercado de trabalho somente por terem em torno de 50 anos de idade.

São chefes de família que têm o encargo do sustento de sua mulher e filhos, que ficam a rondar durante anos os departamentos pessoais das empresas, oferecendo-lhes seus currículos, na esperança dramática de serem aceitos para trabalhar, mas batem nos rochedos rudes do preconceito etário, a maior de todas as barreiras da nossa sociedade.

Recebi uma carta de um desses cinqüentões que me dilacerou o coração. Ele já trabalhou como executivo em algumas das principais empresas do nosso Estado, inclusive multinacionais, já foi professor universitário, é pós-graduado e fluente em espanhol.

Nos últimos 18 meses, tem enviado currículos às empresas, respondido a ofertas de anúncios classificados, conversado com amigos e agências de empregos.

E nada. Enquanto isso, vê pelos jornais serem batidos sucessivos recordes do nível de emprego com carteira assinada. Vê as empresas declararem que os portadores de deficiência são bem-vindos.

E o número de empregos para jovens aumenta a cada dia. E assiste surpreso aos profissionais de recursos humanos alegarem que não encontram mão-de-obra qualificada.

Só não enxerga no seu horizonte onde estão as vagas para os profissionais mais experientes e versáteis, para os que possuem maior capacidade de entender o mercado e potencial de gerar resultados de forma mais rápida e consistente para as empresas.

Criou-se um "buraco" em nossa sociedade, onde por um lado aumenta a idade para a aposentadoria e por outra face não se dá oportunidade para que as pessoas cheguem a essa idade trabalhando e gerando riquezas.

Esse homem que me escreveu já vê se esgotarem todas as suas reservas financeiras e emocionais. Ele diz que se avizinha o momento em que, para continuar vivendo e mantendo a esperança, terá de considerar a venda de um patrimônio que lhe reste e que levou uma vida inteira de trabalho para adquirir.

Ele continua tentando, embora as esperanças sejam cada dia menores.

Todas as cartas que recebi desse tipo de pessoas nos últimos decênios tinham as mesmas características; são recusadas no mercado de trabalho por não serem jovens, embora tenham todas as condições de produtividade de um jovem, sem contar a experiência.

Num tempo em que a expectativa de vida aumenta no Brasil, recusar pessoas que tenham em torno de 50 anos de idade no mercado de trabalho é uma crueldade incomparável.

Mas esse preconceito é surdo e não admitido pelos seus autores.

Quando topo com esses dramas pessoais chocantes, estrago meu dia e mergulho em desilusão.

Vou dar apenas o e-mail desse homem desesperado que me escreveu. Quem sabe, ele possa emprestar sua capacidade de trabalho a alguém que o aceite.

Ele só quer trabalhar. E só quer trabalhar se o julgarem útil, o que ele tem certeza de que é. Seu e-mail: profissional50@gmail.com.

Sabe lá se não foi providencial que ele me escrevesse.

Hoje é um dia de festa para todos os amigos do Maurício Estrougo. Acontece que ele está comemorando 50 anos de idade.

É claro que a data festiva é dele, mas é muito mais dos seus amigos, que têm o privilégio de conhecê-lo, de privar com a delicadeza dos seus gestos, da sua simpatia irradiante e da forma afável e bem-humorada com que preside suas amizades.

Hoje, o Maurício Estrougo comemora meio século de estreitas e profícuas relações de cordialidade com os seus amigos.

Um abraço, companheirão.

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