O fim da infância e seus fantasmas
Lançamentos
- Segredos do Mato Alto (Editora do Pampa, 112 páginas, R$ 50,00), primeiro romance policial de Paula Deconto, natural de Garibaldi, traz uma aldeia e personagens que apresentam contradições universais da alma humana, como os mistérios, a maldade e o humor. Narrativa envolvente, que vai muito além do mero suspense.
- O Almanaque de Fran Lebowitz (Todavia, 288 páginas, R$ 74,90), da celebrada jornalista Fran Lebowitz, traz dois dos três livros que escreveu: Metropolitan Life e Social Studies. Fran era famosa colunista da Interview, imortal revista fundada por Andy Warhol, e os livros trazem os textos.
- Links e Backups (Physalis Editora, 56 páginas, R$ 39,00), de Maria Luiza Puglia, nutricionista, psicopedagoga e escritora de ficção infantojuvenil, pergunta: será possível formatar as nossas memórias sem backups? Ou vamos perdendo os links para nossas antigas dores e alegrias? Sair da infância é pegar a estrada ou shippar memórias e sonhos?
Arte e Magliani no Iberê
Atualmente está meio difícil conceituar com clareza e exatidão o que seja arte. Definições clássicas apontam para expressão de ideal estético, manifestação humana que produz coisas tidas como belas pela sociedade, habilidade para executar finalidade prática ou teórica ou mesmo conjunto de meios e procedimentos para produzir algo. Nesses nossos tempos, é claro que a arte tornou-se mais complexa, tanto no fazer quanto na reflexão sobre ela. Na década de 1960 a arte conceitual abriu mão do formalismo e dos objetos para se concentrar em ideias e conceitos. Hoje leigos e especialistas, aqui e ali, dizem não saber mais exatamente o que seja arte.
Mercado, estética e crítica vão ditando regras, e os leilões de arte vão acontecendo freneticamente. Esses dias, o famoso retrato em silk-screen de Marylin Monroe, de Andy Warhol, foi vendido em leilão por US$ 195 milhões, um recorde para obra de arte de artista norte-americano.
Essas breves considerações são feitas para falar da desafiante arte de Maria Lídia Magliani ( 1946-2012), objeto de grande exposição na Fundação Iberê Camargo, que pode ser apreciada até dia 31 de julho. A mostra ocupa o terceiro e o quarto andar da instituição e apresenta 200 trabalhos, entre pinturas, gravuras e cabeças, que percorrem, de modo cronológico, os cinquenta anos de produção artística de Magliani.
Por sua força e originalidade, Magliani é marco importantíssimo nas artes e na cultura brasileira destas últimas décadas. Com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, a mostra recorreu a instituições de todo o Brasil, como o Museu de Arte do Rio, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, o Margs, a Fundação Vera Chaves Barcellos e o Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo de Pelotas para buscar as peças.
Primeira mulher negra a formar-se no atual Instituto de Artes da Ufrgs, nasceu em Pelotas e veio, com a família humilde para Porto Alegre, onde desenvolveu o encanto pelo desenho, pela pintura, pela música, pela leitura e pelo cinema. Magliani sempre teve consciência das coisas e pessoas de seu tempo e, a exemplo do mestre Iberê Camargo, procurava fazer arte não para enfeitar o mundo, mas para provocar inquietação, ação e reflexão sobre a vida e as pessoas. Magliani soube retratar muitas questões e pessoas de nosso mundo contemporâneo, e seus personagens e traços fortes demonstram a alta sensibilidade e a marcante intensidade de uma artista verdadeira, autêntica, que não veio ao mundo para fazer concessões.
No silêncio e na solidão do local de trabalho, lutando muitas vezes contra si, a doença e o tempo, o artista procura e encontra revelações que vão se transformar em obras. Como diz o velha afirmação em latim: Ars longa,vita brevis. A arte é longa e a vida é breve. Magliani, ao longo de décadas, procurou sua verdade e seus caminhos. Na exposição, os visitantes poderão seguir sua trajetória.
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