06 DE JUNHO DE 2022
INFORME ESPECIAL
Tabagismo, armadilhas e saídas
Desde 1987, definiu a ONU, 31 de maio passou a ser o Dia Mundial Sem Tabaco. A data, transcorrida na quarta-feira, é um lembrete dos prejuízos à saúde dos fumantes. Porto Alegre é a capital que tem proporcionalmente mais fumantes no Brasil: 14,4% da população. O chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital São Lucas da PUCRS, José Miguel Chatkin (foto), respondeu três perguntas sobre tabagismo e caminhos para quem deseja se livrar desse indesejável costume:
Porto Alegre é a capital com mais fumantes no Brasil. O que falta no enfrentamento ao tabagismo?
Em um levantamento publicado em maio, avaliando mais de 9 mil pessoas de todo o país, foi identificado percentual de 14,7% de fumantes no período pré-pandemia, com redução para 12,1% no primeiro trimestre de 2022. O Sul foi onde se detectou o maior percentual de tabagistas. A presença da indústria do tabaco e a proximidade com países onde os percentuais de fumantes foram muito altos há até pouco tempo são possíveis explicações. Também as modificações no estilo de vida relacionadas à pandemia, com isolamento social, aumento da ansiedade e dificuldades econômicas precisam ser ainda avaliadas. Porto Alegre é, há muitos anos, a capital em que as mulheres adultas mais fumam no Brasil, pouco mais de 14%. No sexo masculino, também em maiores de 18 anos, é a 4ª colocada em percentual de fumantes (15%). Com raras exceções, os maiores percentuais ocorreram em capitais com melhor qualidade de vida e maior nível educacional. Este é um outro ponto que ainda requer esclarecimentos.
O uso de cigarros eletrônicos vem preocupando especialistas. Quais são os riscos?
É necessário desmistificar a noção de ser um produto isento de riscos. É uma falácia gravíssima, pois pode ocasionar inúmeros agravos à saúde, inclusive levar à morte. Venda, propaganda e até seu uso são considerados ilegais no Brasil, passíveis de pesadas medidas administrativas para o comerciante e para o usuário. Há quatro gerações de cigarros eletrônicos. As mais recentes permitem maiores concentrações de sais de nicotina, a inclusão de aditivos para melhorar o sabor e aroma, o acréscimo de propilenoglicol, vulgarmente chamado de gelo seco. São artifícios para estimular seu uso e induzir o vício. No vapor exalado, está comprovada a presença de inúmeros agentes cancerígenos e outras toxinas. O uso continuado conduz à dependência, traz irritação para os olhos e visão turva, tosse, irritação na garganta, dificuldade para o fluxo de ar no sistema respiratório, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, náuseas e vômitos. Houve, na América do Norte e outros países, registros de mais de 2,7 mil casos de insuficiência respiratória e de dezenas de óbitos nitidamente associados aos cigarros eletrônicos.
Como parar de fumar?
Existem duas vertentes que devem ser usadas simultaneamente: 1) a terapia cognitivacomportamental/aconselhamento, na qual o fumante reconhece os gatilhos que lhe fazem acender um cigarro para então mudar o comportamento. 2) farmacoterapia, ou seja, através de medicamentos específicos para cessação do tabagismo. Ambas as técnicas associadas resultam em melhores taxas de sucesso sob acompanhamento médico. É frequente a introdução de algum tipo de reforço para contornar a síndrome de abstinência. É preciso reconhecer que podem ser necessárias várias tentativas, de seis a oito vezes, para ter sucesso. Fracassos iniciais não significam fraqueza, covardia ou falta de caráter, ou seja, não é depreciativo, mas sim mostra o grau de dependência que esta droga ocasionou.
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