quinta-feira, 2 de junho de 2022


01 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

SURPRESAS POSITIVAS E INCERTEZAS

As inseguranças em relação ao desempenho da economia nacional persistem, mas é inegável que alguns indicadores estão frustrando as previsões mais pessimistas que vigoraram entre o final do ano passado e o início de 2022. Um deles é a taxa de desemprego. Persiste alta, é verdade, mas nos últimos meses os resultados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estão vindo melhores do que o consenso do mercado. No trimestre encerrado em abril, ficou em 10,5%, enquanto a expectativa era de 10,9%. Assim, o percentual de desocupados se aproxima inesperadamente do patamar de um dígito.

O mesmo se verifica em relação ao PIB e ao dólar. No encerramento de 2021, chegou-se a estimar retração da atividade nesse ano, mas sucessivas revisões para cima vêm ocorrendo. O Itaú, maior banco do Brasil e com respeitadíssimo departamento econômico, chegou a cravar uma retração de 0,5% e, agora, espera alta de 1%. Mas há cálculos bem mais otimistas, que se aproximam de 2%. Grande parte das atualizações das previsões se deve ao desempenho observado nos primeiros meses do ano. O PIB do primeiro trimestre será conhecido amanhã e, de acordo com levantamento do jornal Valor, a alta em relação aos últimos três meses de 2021 deve ser de 1%, conforme a mediana das projeções de 82 instituições. No caso da moeda norte-americana, hoje próxima de R$ 4,70, predominavam apostas de câmbio acima de R$ 5,50.

Surpresas positivas são sempre bem-vindas. Atividade em maior cadência e mais pessoas com trabalho significam menores dificuldades para muitos brasileiros em enfrentar os tempos bicudos de inflação e juro altos e mercado de trabalho - apesar de melhor do que se esperava - ainda fraco. Afinal, o país segue com uma das maiores taxas de desocupação da América Latina. Em comparação com os pares, o país também não tem as melhores colocações em termos de projeções de organismos internacionais para desempenho da economia e inflação. Lembre-se ainda que, a despeito da redução do desemprego, a renda no trimestre encerrado em abril foi 7,9% inferior ao mesmo período do ano passado.

O que se percebe é uma grande dificuldade, mesmo dos mais reconhecidos economistas e instituições, de acertar cenários em virtude da grande volatilidade das variáveis. A guerra no Leste Europeu, por ilustração, elevou os preços das commodities. E a alta das cotações de matérias-primas negociadas no mercado internacional costuma ter uma correlação positiva com a economia brasileira, pelo fato de o país ser importante exportador de produtos como minério de ferro, soja e petróleo. Mesmo assim, predomina percepção de que, após um primeiro semestre mais forte, a tendência seria de uma acomodação da atividade interna na segunda metade do ano. A eleição, especialmente para a Presidência da República, é um fator a alimentar as incertezas. Com a inflação resiliente (12,13% em 12 meses), o juro (hoje em 12,75% ao ano) tende a permanecer em patamares sufocantes.

Diante de tamanhos desafios à frente, o recomendado seria evitar medidas que poderiam adicionar estresse e objetivamente dificultar a recuperação da economia brasileira. A possibilidade cogitada, por exemplo, de o governo federal adotar alguma manobra para evitar de maneira artificial reajustes dos preços de combustíveis pela Petrobras, deixando de acompanhar a paridade internacional por longo período, cria o risco de falta de diesel no país no segundo semestre. O alerta já foi disparado pela própria estatal. Seria desastroso e pior do que um preço mais caro para o consumidor. É o período de maior consumo, inclusive por ser época de formação das lavouras de verão no país. O efeito bumerangue de uma iniciativa eleitoreira nesse sentido seria sentido no ritmo da economia e produziria novas pressões inflacionárias. 

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