Total de pessoas que trabalham menos do que gostariam cresce
Recuperação do emprego se dá em um contexto em que ocorre aumento da ocupação informal ou por conta própria
O número de pessoas que trabalham menos horas do que gostariam voltou a aumentar no Estado em meio à busca por retomada da economia. O total de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas cresceu 10,1% no segundo trimestre deste ano ante igual período de 2020.
De abril a junho, 304 mil trabalhadores se encaixavam nessa situação no Rio Grande do Sul - 28 mil a mais na comparação com mesmo trimestre do ano anterior. Aumento no trabalho informal ou por conta própria diante da crise econômica, do contrato por demanda e incerteza sobre o futuro ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mais recente aborda dados do segundo trimestre.
Coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues afirma que o avanço do número de subocupados está ligado a maior quantidade de pessoas ocupadas por conta própria ou na informalidade. Parte delas conseguiu fonte de renda, mas em um contexto de sobrevivência, segundo Rodrigues:
- Essas pessoas estão retornando com jornada de trabalho menor, o que gera rendimento menor. Muitas não estão conseguindo retornar na sua situação anterior de emprego. Retornam por conta própria, fazendo bicos ou outras atividades por questão de sobrevivência.
O levantamento do IBGE coloca nesse grupo pessoas que trabalham habitualmente menos de 40 horas semanais, mas gostariam de atuar mais. Trabalhos com redução de jornada e os populares "bicos" estão dentro dessa categoria.
Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos também avalia que esse avanço da população subocupada no Estado mostra o começo da volta do emprego, mas não com força necessária para manter as pessoas ocupadas por mais horas. Ele destaca que a incerteza sobre o comportamento da economia em futuro próximo também influencia na redução de jornada.
- É uma dinâmica relativamente esperada dentro desse cenário de retomada de agora. A gente ainda está com uma retomada modesta. Por mais que tenha geração de ocupações formais e informais, a gente tem de olhar para esses números em um contexto de taxa de desemprego de 13% - salienta.
Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho, Lúcia Garcia avalia que o mercado de trabalho no país está passando por um ajuste. Nesse movimento, o aumento no número de ocupados é marcado por precariedade e subutilização da mão de obra, diz.
- Esses postos de trabalho são precários e subutilizam a jornada, o tempo disponível do trabalhador e subremunera. Isso faz com que na estatística apareça como uma ocupação, mas são ocupações de baixa qualidade - detalha.
Intermitentes
O professor de Economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete avalia que o aumento da subocupação já vem ocorrendo há um bom tempo. Calvete atrela esse movimento ao avanço dos trabalhadores em plataformas, como motoristas de aplicativo, entregadores e outras atividades, e dos intermitentes, que não têm jornada e salários fixos.
- Essas duas formas de ocupação, o trabalho intermitente e o trabalho em plataforma, são as que mais crescem no Brasil. São formas precárias e que muitas vezes, em grande medida, são de subocupação. A pessoa não consegue trabalhar a jornada desejada. É o que consegue. O que tem - afirma.
O número de subocupados é um dos três grupos que compõem o indicador de subutilização da força de trabalho na Pnad Contínua. No segundo trimestre, as outras duas categorias, desocupados e força de trabalho potencial, recuaram no Estado, o que diminui a subutilização no período.
ANDERSON AIRES
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