segunda-feira, 4 de outubro de 2021


Total de pessoas que trabalham menos do que gostariam cresce

Recuperação do emprego se dá em um contexto em que ocorre aumento da ocupação informal ou por conta própria

O número de pessoas que trabalham menos horas do que gostariam voltou a aumentar no Estado em meio à busca por retomada da economia. O total de pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas cresceu 10,1% no segundo trimestre deste ano ante igual período de 2020.

De abril a junho, 304 mil trabalhadores se encaixavam nessa situação no Rio Grande do Sul - 28 mil a mais na comparação com mesmo trimestre do ano anterior. Aumento no trabalho informal ou por conta própria diante da crise econômica, do contrato por demanda e incerteza sobre o futuro ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mais recente aborda dados do segundo trimestre.

Coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues afirma que o avanço do número de subocupados está ligado a maior quantidade de pessoas ocupadas por conta própria ou na informalidade. Parte delas conseguiu fonte de renda, mas em um contexto de sobrevivência, segundo Rodrigues:

- Essas pessoas estão retornando com jornada de trabalho menor, o que gera rendimento menor. Muitas não estão conseguindo retornar na sua situação anterior de emprego. Retornam por conta própria, fazendo bicos ou outras atividades por questão de sobrevivência.

O levantamento do IBGE coloca nesse grupo pessoas que trabalham habitualmente menos de 40 horas semanais, mas gostariam de atuar mais. Trabalhos com redução de jornada e os populares "bicos" estão dentro dessa categoria.

Economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Ely José de Mattos também avalia que esse avanço da população subocupada no Estado mostra o começo da volta do emprego, mas não com força necessária para manter as pessoas ocupadas por mais horas. Ele destaca que a incerteza sobre o comportamento da economia em futuro próximo também influencia na redução de jornada.

- É uma dinâmica relativamente esperada dentro desse cenário de retomada de agora. A gente ainda está com uma retomada modesta. Por mais que tenha geração de ocupações formais e informais, a gente tem de olhar para esses números em um contexto de taxa de desemprego de 13% - salienta.

Economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho, Lúcia Garcia avalia que o mercado de trabalho no país está passando por um ajuste. Nesse movimento, o aumento no número de ocupados é marcado por precariedade e subutilização da mão de obra, diz.

- Esses postos de trabalho são precários e subutilizam a jornada, o tempo disponível do trabalhador e subremunera. Isso faz com que na estatística apareça como uma ocupação, mas são ocupações de baixa qualidade - detalha.

Intermitentes

O professor de Economia do trabalho da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cássio Calvete avalia que o aumento da subocupação já vem ocorrendo há um bom tempo. Calvete atrela esse movimento ao avanço dos trabalhadores em plataformas, como motoristas de aplicativo, entregadores e outras atividades, e dos intermitentes, que não têm jornada e salários fixos.

- Essas duas formas de ocupação, o trabalho intermitente e o trabalho em plataforma, são as que mais crescem no Brasil. São formas precárias e que muitas vezes, em grande medida, são de subocupação. A pessoa não consegue trabalhar a jornada desejada. É o que consegue. O que tem - afirma.

O número de subocupados é um dos três grupos que compõem o indicador de subutilização da força de trabalho na Pnad Contínua. No segundo trimestre, as outras duas categorias, desocupados e força de trabalho potencial, recuaram no Estado, o que diminui a subutilização no período.

 ANDERSON AIRES 

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