domingo, 22 de março de 2009


CLÓVIS ROSSI

Falou o pai da Sasha

LONDRES - O que impressiona no vídeo que o presidente Barack Obama enviou aos iranianos não é o meio utilizado, embora inédito em relações internacionais. A televisão, desde que a CNN se implantou, tem sido usada frequentemente como forma de comunicação de iniciativas diplomáticas, uma espécie de diplomacia instantânea.

A mudança dramática de tom em relação ao Irã impressiona mais, mas tampouco é o que mais chama a atenção, pelo menos a minha atenção. O tom é que é absolutamente novo.

Obama foi de uma humildade e de um respeito insólitos em presidentes norte-americanos. É compreensível que falasse em "novo começo" com a "República Islâmica", tratada com nome e sobrenome, em vez de "eixo do mal", como dizia Bush. Obama foi eleito para inverter os sinais herdados da administração anterior.

Mas ele, pelo menos nesse vídeo, inverteu os sinais do discurso habitual de todos mandatários recentes dos EUA. O tom não é imperial, é coloquial, quase como se estivesse gravando em uma viagem qualquer um vídeo caseiro para mandar aos amigos em casa.

É um vídeo mais do pai de Malia e Sasha do que do todo poderoso ocupante da Casa Branca. Claro que discursos são discursos, claro que precisam ser acompanhados de ações para que ocorram de fato as mudanças insinuadas no tom adotado no vídeo, claro que há imensas dificuldades pela frente no relacionamento Irã/Estados Unidos (para não falar na crise global e em todos os demais problemas que fazem com o presidente Lula diga rezar mais por Obama do que por ele próprio).

De todo modo, um presidente norte-americano abandonar o tom de sermão com que seus antecessores se dirigiam usualmente ao mundo pode abrir avenidas de dimensões e consequências difíceis de antecipar. Mas que vale a pena transitar, lá isso vale.

crossi@uol.com.br

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