quarta-feira, 25 de março de 2009



25 de março de 2009
N° 15917 - PAULO SANT’ANA


Retrocesso na civilização

Tomando conhecimento da agressão sofrida por uma professora na Escola Estadual Bahia, aqui em Porto Alegre, relembrando que ontem escrevi que detesto o progresso, sou obrigado a concluir que estamos vivendo um retrocesso na civilização.

Esses assaltos, essa violência disseminada que começa nas ruas e vai desembocar sórdida e monstruosamente no interior dos presídios, esse aperto e sufocamento urbano que geram o medo e o terror, tanto no Bairro Rubem Berta em Porto Alegre quanto nas ruas que vizinham com as franjas das favelas em Copacabana, são sinais evidentes de um regresso no processo civilizatório.

E, para mal dos pecados, se não se rebelam os presos porque lhes foi concedida pelo poder público a missão de eles próprios administrarem as galerias dos presídios, rebelam-se, no entanto, os estudantes e apertam o torniquete da indisciplina contra os professores, na ânsia de eles próprios administrarem as escolas.

Se isso não é uma decadência civilizatória, não sei mais o que seja.

Os alunos desrespeitarem as professoras, desacatarem, desafiarem as professoras, agredirem fisicamente as professoras, isso é uma queda brutal no avanço da cordialidade e da solidariedade entre as pessoas.

O zelo amantíssimo e o respeito reverencial que eu tive pelas minhas professoras primárias podem ser simbolizados no verso célebre de Ataulfo Alves: “Que saudade da professorinha/ que me ensinou o bê-a-bá/ onde andará Mariazinha/ meu primeiro amor, onde andará?”.

Onde andará aquela admiração devotada que tínhamos por nossas professoras, elas eram para nós espécie de semideusas, de seres supremos, intocáveis, superiores até mesmo a nossas mães e nossos pais.

Nutríamos um acatamento e uma afeição basbaques por nossas professoras.

Todos os dias corríamos para a escola sedentos de saber e de experiência, em busca dos ensinamentos e da experiência de nossas professoras, nossos ídolos, nossos guias, nossas bússolas, nosso norte.

E ver hoje a professora Glaucia da Escola Estadual Bahia e tantas outras professoras terem seus cabelos puxados, serem pisoteadas, soqueadas e levadas até o hospital, depois de serem desrespeitadas e ofendidas pelos alunos, é uma iconoclastia horrenda que agride nossa consciência.

Sem dúvida, vivemos um retrocesso na civilização. O mundo enlouqueceu ou nós que amávamos nossas professoras estamos loucos?

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