sábado, 28 de março de 2009



29 de março de 2009
N° 15922 - MOACYR SCLIAR


Clique aqui, amigo. Por favor, clique aqui

Acontece com todo mundo que tem internet: não há dia em que a gente não receba uma mensagem vinda de um remetente não habitual – não é amigo, não é familiar – mas que sempre contém uma ordem/convite: “Clique aqui”. Não clique.

É uma armadilha. É coisa de hacker. Clicar significa abrir a memória de seu computador para alguém que dela tirará proveito, obtendo informações que incluem, por exemplo, contas bancárias. Todos nós sabemos disso. Mas todos nós precisamos estar alertas, muito alertas, para não cair no engodo eletrônico.

O hacker é uma figura nova no mundo da transgressão. Não é um assaltante violento, não usa armas, não agride sua vítima, nem sequer se aproxima dela. O hacker age a distância, e seus instrumentos são, além da internet, uma boa dose de imaginação e um conhecimento, ainda que rudimentar, da psicologia humana.

Imaginação? Pois é. Sem ser um ficcionista famoso, o hacker tem, no entanto, de bolar uma historinha convincente; mais que isso, tem de criar também um personagem.

Uma personagem, na maioria das vezes, que se dirige a nós com a maior familiaridade, sempre se queixando e, portanto, sempre apelando para o nosso sentimento de culpa: “Oie (se a mensagem começa por ‘oie’, desconfiem), você ontem passou por mim e fez que não me viu, não tem importância, eu perdoo você e mando as fotos do nosso último encontro”. E ali está o anexo no qual as pessoas devem novamente clicar.

E por que clicam? Pela curiosidade, claro, à qual não falta um componente de sacanagem. O destinatário da mensagem sabe muito bem que não passou por moça alguma, que não encontrou moça alguma, que não foi para o quarto com ela; mas clica, mesmo assim.

Por que clica? O que espera ver? É a si próprio, vivendo cenas de tórrida paixão? Talvez. A capacidade que temos de enganar-nos a nós próprios é muito grande, e é com isso que o hacker (ou a hacker, não sejamos preconceituosos) conta.

Sedução é uma fórmula. A outra é autoritarismo. Em certas mensagens, o hacker fala em nome do poder. É a justiça eleitoral avisando que nosso título vai ser cassado. É um banco, ameaçando com cobrança judicial. É uma empresa mandando a conta de um eletrodoméstico adquirido via internet.

Às vezes, temos uma curiosa fórmula intermediária, que consiste em unir autoridade com sedução. Somos avisados que foi feito um depósito em nosso nome; para saber quanto, temos de clicar. Ora, depósitos são feitos por quem controla dinheiro, e quem controla dinheiro merece respeito. E aí muitos clicam.

Deve ser dito que os hackers não são propriamente gênios da vigarice. O número de erros de grafia nas mensagens é monumental, sem falar nas frases mal-construídas (seria bom que lessem mais). Por outro lado, certas propostas, ou certas ordens, não fazem o menor sentido. “Você vai ser desligado do provedor X”.

Só que não usamos o provedor X, nunca tivemos nada a ver com o provedor X. E o banco Y manda-nos uma mensagem: “Caro depositante” – mas não somos depositantes do banco Y. Isso, porém, não importa. O hacker é como o semeador da parábola bíblica: ele vai atirando as sementes da tentação por toda a parte.

A maioria delas cairá no território árido (para o hacker) de nosso ceticismo e de nossa desconfiança e nunca germinará, mas basta que uma pequena porcentagem resulte em sucesso para justificar um trabalho que, convenhamos, nada tem de exaustivo.

A indagação se impõe: por que os hackers não usam seu talento, seu esforço, em alguma atividade respeitável, reconhecida?

Boa pergunta. Para saber a resposta, clique aqui.

Nenhum comentário: