sábado, 21 de março de 2009



21 de março de 2009
N° 15914 - ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES


A primeira cavalgada

O elegante Luís Augusto Fischer, intelectual que estimo, admiro e respeito, na edição de ZH no último dia 17 tentou opor embargos a um artigo que escrevi no último sábado sobre o histórico das cavalgadas. Sugiro que não foi muito feliz em sua tentativa, pelas razões que passo a expor.

Uma cavalgada há de ser sempre coletiva. Não posso considerar cavalgada a marcha que Tau Golin, Pedro Luís Osório e Sérgio Jacaré fizeram de Santa Maria a Jaguarão em março de 1980. Em primeiro lugar, porque eram apenas três cavaleiros. Em segundo lugar, porque tinha motivação política, o que contraria os postulados do tradicionalismo. Em terceiro lugar, o próprio Fischer define a marcha como “aventura”.

Em quarto, porque muito antes deles houve várias marchas a cavalo e em percurso muito mais longo. Por exemplo: no inicio da década de 1960, talvez 1964, um casal saiu de Uruguaiana e foi até o centro do Brasil. Ele era Norberto Lara, gaúcho veterano, meio bruxo, ela era sua esposa, muito mais jovem, Neyita Leitão Lara, gaiteira de Cachoeira do Sul, aparentada com o ministro Leitão de Abreu e grande cavaleira.

Também pela mesma época – muito antes de 1980 –, o chinês Tim Tim movimentou Porto Alegre e o sul do Brasil com uma marcha solitária a cavalo. Estive com ele e guardo até hoje uns ricos avios de mate (cuia toda retovada de prata e ouro e bomba de prata e ouro) que ganhei dele vencendo uma espécie de concurso de poesia que ele promoveu tendo o mate como tema.

O Tim Tim fez uma longa marcha a cavalo, sozinho. Era tido como homem rico e certamente o dinheiro para pagar a alimentação dele e a da montaria dispensava uma equipe de apoio.

E, desde os séculos passados, os tropeiros da fronteira oeste levavam gado até Pelotas ao longo de semanas e meses, e de lá sempre voltavam a cavalo para suas querências. Um deles foi o saudoso tio Flor Magalhães, de Santana do Livramento, meu amigo dos Cavaleiros da Paz.

Quero crer que o trabalho sociopolítico realizado pelo Jacaré, o Tau e o Osório (homens cultos, quase radicais de esquerda) que buscavam uma visão sociológica das populações desfavorecidas do sul gaúcho e a influencia da TV nessas populações, poderia ser realizado em qualquer meio de transporte – o cavalo não foi essencial.

Sou de opinião que a crônica do Fischer não visa correções históricas mas é um preito de amizade e saudade in memoriam do Sérgio Jacaré, que era uma pessoa maravilhosa e um amigo muito querido. Ao morrer prematuramente, nos deixou a certeza de que poderia realizar muita coisa linda, sobretudo no campo da ficção.

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