sábado, 28 de março de 2009



O’Neal e seu bonus de US$ 160 milhões

Sex, 27/03/09por Paulo Moreira Leite |categoria Geral
Alguns comentaristas me impressionam. Eles escreveram para defender Lula depois que ele isse que a culpa pela crise “é dos brancos de pele branca e olho azul.”

Nem todo racismo se dirige aos negros. Muitos se dirigem a populações de pele branca, muitas vezes de olhos azuis — como sabe toda pessoa que estudou a Segunda Guerra Mundial.

É prova de desconhecimento da vida real dizer que não existe banqueiro negro nem índio. Se fosse assim, não haveriam bancos na África, nem na Bolivia ou no México, não é mesmo?

A foto acima mostra Stanley O’Neal, que foi presidente e executivo do Merril Linch, um dos grandes bancos de Wall Street, entre 2003 e 2007.

Um dos reis da especulação e dos derivativos, como tantos colegas de pele branca e alguns “de olhos zuis”, O’Neal aposentou-se com um premio de US$ 160 milhões depois de jogar o banco na lona. Ao lado de outros colegas de serviço, O’Neal foi um dos arquitetos do desastre irresponsável que jogou o mundo no despenhadeiro em que se encontra. Pelo volume, sua aposentadoria é considerada, até hoje, um símbolo dos premios pelo fracasso.

Numa reportagem sobre a atuação da turma, a revista Fortune chegou a insinuar de modo bem humorado que o pessoal tomava decisões depois de fumar maconha, chegando a perguntar: “O que é que eles estavam fumando?”

Qual a importancia da cor da pele de um banqueiro? Nenhuma. O que importa são suas decisões, seus valores e sua visão de mundo.

Num país onde 50% da população considera-se branca, eu acho que o presidente Lula poderia pedir desculpas pelo que disse. Não é de seu estilo, e poucos políticos fazem isso quando tem 65% de popularidade. Mas faria bem ao país — e ajudaria a educar muitos de seus admiradores.

O papelão de Lula

Sex, 27/03/09por Paulo Moreira Leite |categoria GeralLula perdeu uma boa oportunidade de ficar calado em seu discurso diante do primeiro ministro britânico Gordon Brown. O presidente disse que vivemos uma crise “causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis, que antes da crise parecia que sabia tudo e que, agora, demonstra não saber nada.”

Questionado por um jornalista inglês, o presidente continuou, acrescentando que não conhece “nenhum banqueiro negro ou índio.”

É absurdo e vergonhoso. Todo esforço para associar cor da pele, tipo de cabelo, cor dos olhos e outros traços genéticos a realizações econômicas e sociais é uma forma de preconceito.

Equivale a comportar-se como aquele cidadão que diz: “índio é preguiçoso e por isso vive no mato” ou aquela dona-de-casa que sentencia: “nunca vi um negro tirar nota boa na escola”. Não custa recordar que, para muitos escravocratas, o cativeiro servia para educar e civilizar os negros africanos.

Cesare Lombroso, um psiquiatra italiano do seculo XIX que fez trabalhos sobre a loucura, a mediunidade e a criminalidade, chegou a formular a teoria de que era possivel adivinhar o comportamento de um criminoso pelo formato do rosto — e assegurava ter descoberto traços que indicavam vocação para o roubo, o homicídio e o estupro.

Eu até entendo que um governo que defende o sistema de cotas nas universidades dê muita importância à cor da pele em sua forma de explicar as dores e mazelas do mundo. Mas, ao assumir um viés racial para o debate sobre a crise economica mundial, Lula chegou ao limite do grotesco.

Perdeu a oportunidade de cobrar a responsabilidade de quem deve — para criar uma ambiente pouco proveitoso de agressividade e constrangimento. Não há dúvida de que a crise teve início nos países ricos e desenvolvidos. Mas a discussão é de política econômica.

Aliado do Brasil, país que seu governo considera um parceiro prioritário na reunião do G-20, Gordon Brown não conseguiu disfarçar o constrangimento diante das palavras de Lula.

Os banqueiros não quebraram o mundo porque são brancos nem porque tem olhos azuis. Também não tem o monopólio do comportamento irracional — característica que faz parte do sistema econômico em que vivemos.

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