quarta-feira, 18 de março de 2009



ANTONIO DELFIM NETTO

Dura realidade

O BRASIL só muito recentemente havia se reconciliado com o verdadeiro crescimento, que, para os países emergentes, é aquele que o faz convergir e superar a média do crescimento mundial. Depois de 20 anos de taxas de crescimento inferiores à do mundo, o terceiro trimestre de 2006 mostrou importante mudança: voltamos a crescer mais do que ele.

Entre 1950 e 1985, o Brasil cresceu, por ano, 2,2% acima do mundo; entre 1986 e 2006, cresceu, em média, 0,7% por ano abaixo do mundo. A tabela mostra o crescimento trimestral em 2008 comparado a cada trimestre de 2007:

Trata-se de verdadeiro colapso, que nem os mais pessimistas ousavam prever. Esse enorme desastre "na margem" é relativizado quando se verifica que, na média, nosso crescimento de 2008 foi muito superior ao do mundo (cerca de 1,6%) e praticamente igual ao dos países emergentes (5%).

É claro que há mil razões para explicar o fato, mas é ainda mais claro que nem a soma de 999 delas chega a ter a importância da "morte súbita" do crédito interbancário no Brasil. Por que um país que tem um sistema bancário hígido, com alavancagem razoável e controlada e economia relativamente fechada, assistiu à queda do seu recém-redescoberto desenvolvimento?

A resposta desagradável é uma só: o Banco Central, perdido no labirinto de seus modelos, demorou a entender o que se passava após a barbeiragem do Tesouro americano e do Fed na desastrada operação Lehman Brothers, em setembro. Quando entendeu, agiu na direção certa, mas com atraso e tibieza.

Há fatos fora de nosso controle, como a queda de demanda das exportações e a evolução das relações de troca (preços de exportação/ preços de importação), que cobrarão seu preço sobre nosso desenvolvimento.

Mas as preocupações do nosso sistema bancário em relação ao capital subordinado e ao seu "funding" externo deveriam (e poderiam!) ter sido reduzidas pelo BC ainda em setembro.

Em vez disso, perdemos meses construindo a perversa teoria de que banco "grande" é melhor do que "pequeno" e que o pior dos bancos "públicos" é melhor do que o melhor dos "privados", o que compromete ainda mais a restauração do crédito interbancário.

Se continuarmos "filosofando", o Brasil poderá encolher em 2009. Felizmente temos os próximos nove meses para trabalhar duro e com inteligência para evitar a tragédia.

contatodelfimnetto@uol.com.br

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