sábado, 21 de março de 2009



22 de março de 2009
N° 15915 - PAULO SANT’ANA


A besta humana

Um dos mais hediondos crimes cometidos por um integrante da humanidade culminou na quinta-feira com a condenação à prisão perpétua de seu autor, o austríaco Josef Fritzl, de 73 anos de idade.

Ele encarcerou no porão de sua casa, por 24 anos, uma filha sua, mantendo-a presa em uma peça a que só ele tinha acesso.

Nesses 24 anos, a cada três dias ele violentava sua filha, tendo com ela sete filhos. Dos quais, um morreu com poucos dias e três ele criou na casa onde vivia com sua mulher, depois de simular o abandono dos bebês na porta da moradia. Três permaneceram no porão.

Não dá para entender como viveu naquele pequeno e escuro cubículo, durante todos esses anos, aquela que era ao mesmo tempo filha de Fritzl e mãe de seus sete filhos incestuosos.

Como a mulher de Fritzl e mãe da filha encarcerada nunca percebeu que havia vidas pulsando secretamente naquela peça sinistra, não dá para entender.

Como a esposa de Fritzl nunca desconfiou do marido, que levava mantimentos para a filha estuprada, que se ausentava longos períodos de tempo para alimentar seus filhos do incesto, para carregar roupas para eles, para administrar a vida de seus reféns, não dá para entender.

Será que a esposa de Fritzl nunca ouviu choros dos sete bebês que foram nascendo ao passar dos anos e nunca notou qualquer movimento naquela peça lúgubre da casa? Não dá para entender.

Como os partos, através dos anos, foram realizados sem atendimento obstétrico, sem sequer uma parteira, não dá para entender.

É um mistério profundo, a não ser que a esposa de Fritzl e mãe da sua filha estuprada fosse cúmplice dele ou tivesse silenciado pelo terror.

Espanta que as sete crianças tenham nascido sem qualquer assistência médica e que as três mantidas no porão tenham se criado sem assistência e sem educação.

Assim como espanta que não tenha enlouquecido no estreito cárcere, submetida à lascívia do pai, a filha encarcerada durante os 24 anos.

O eletricista Josef Fritzl confessou os crimes de cárcere privado, estupro, escravidão e homicídio (não permitiu assistência médica a um dos sete filhos originados nos crimes, que veio a morrer).

O monstruoso criminoso confessou os crimes mas pediu perdão ao júri, prometendo que por alguma forma ele talvez ainda pudesse limitar o seu estrago. De que forma? De que jeito?

Porque, por trás desses atos perversos e repugnantes que ele cometeu, havia o sofrimento terrível de sua filha, que padeceu durante 24 anos sob seu jugo cruel, privada até de sol.

E havia o sofrimento, prejuízo e trauma dos filhos do incesto presos no porão, que foram privados do direito à infância.

Cada vez me convenço de que não há espécie sobre a face da Terra mais feroz, perversa, implacável e mais meticulosa e doentiamente má do que a humana.

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