terça-feira, 24 de março de 2009



24 de março de 2009
N° 15917 PAULO SANT’ANA


Abaixo o progresso

Detesto o progresso. Porque eu era muito mais feliz quando Porto Alegre, nos anos 50, era uma cidade que usava suas janelas, onde sempre havia alguém olhando para a rua.

Nas calçadas das ruas de Porto Alegre, sentavam-se os casais, os homens de pijama, em cadeiras preguiçosas, bebiam chimarrão e conversavam até quase a meia-noite, não havia perigo de assalto, ou melhor, não havia assalto. Era barato o transporte no bonde e as pessoas usavam a charrete para passear no domingo.

Belos tempos aqueles. Veio o progresso e, com ele, o sonho de que um dia o Brasil se tornasse autossuficiente em petróleo.

Foi um sonho acalentado por muitas gerações. Até que, há alguns anos, o presidente da República anunciou que o Brasil, por alavanca do maldito progresso, tornou-se autossuficiente em petróleo.

E, desde aquele dia fatídico, nós, brasileiros, passamos a pagar a gasolina mais cara do mundo.

Chega ao ponto de a gasolina que pagamos ser mais cara do que a que pagam os norte-americanos, em dólares.

E o perverso é que o salário mínimo nos EUA é 10 vezes maior do que aqui.

Sinto-me como um otário.

Pensáramos que tínhamos nos tornado autossuficientes em petróleo e o que se viu é que a Petrobras tornara-se autossuficiente em petróleo, não o país, porque, no tempo em que não éramos autossuficientes em petróleo, a gasolina era muito mais barata.

Mais uma vez o progresso me castigou, de tal sorte que não faço outro trajeto em meu carro que não seja da casa para o serviço e depois do serviço para casa. E gasto R$ 600 por mês de gasolina.

Detesto o progresso. Com que alegria, nas raras vezes em que uma pessoa, antigamente, há 20 anos, tinha uma máquina fotográfica, pedia para bater uma foto comigo e eu posava orgulhoso com ela.

Hoje, com a tecnologia moderna, todas as pessoas, absolutamente todas, têm celulares que batem fotografias. E, em toda parte em que me atrevo a ir, até no fumódromo da Zero Hora, quanto mais nas ruas, me param as pessoas para tirar fotografias comigo.

E, não raro, não saem bem as fotos e eu volto, mesmo que esteja apressado, para bater as fotos novamente. E, não raro, pego pela frente uma excursão, quando todos descem do ônibus e querem bater fotos comigo.

E exigem que eu ria nas fotos. Como dizia o Jamelão, rir de quê? O progresso só me trouxe maiores encargos e preços mais altos.

Que deliciosos tempos aqueles em que o Brasil importava petróleo e fotografia só era tirada por máquina fotográfica. Não sei onde a Petrobras bota o dinheiro que tanto ganha, nem em que lugar empilham tantas fotos.

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