segunda-feira, 30 de março de 2009



30 de março de 2009
N° 15923 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Da suave convivência

Conversando com uma adolescente em um aniversário, me surpreendi com uma pergunta que ela fez:

– Por que nunca sabemos o que vamos ser?

Indaguei sua idade, ela disse que tinha 15 anos. Quis saber que vestibular ia fazer, ela falou que esse era o problema.

Num dia pensava em Medicina, no outro em Informática, num terceiro em Direito. Naquela manhã cogitara de História.

Foi nesse momento que nos chamaram para cantar o Parabéns e a conversa se interrompeu.

Não fosse esse acidente musical, eu teria dito que ela estava no momento mais rico de sua vida.

À sua frente se abriam todos os caminhos, suas eram todas as escolhas. Ela podia ser arquiteta, artista plástica, bióloga, o que quisesse. Nunca mais seria tão senhora e dona de seu destino.

Ninguém a impediria de ser oceanógrafa, química, psicóloga, geóloga, publicitária, engenheira ou música. Essa diversidade de rumos era como uma espécie de doce vertigem. E se de repente, depois de uma primeira opção, quisesse trocá-la, nada a proibiria.

Era como se tivesse nas mãos a argila de que era feita e pudesse moldá-la segundo suas inclinações e seus caprichos. Seu era o poder de eleger os caminhos que orientariam todos os seus passos. E não precisava orientar-se segundo os padrões comuns.

Se não quisesse ser agrônoma, jornalista ou juíza, se não lhe apetecesse converter-se em professora, designer ou paleontologista, sempre lhe restaria decidir-se por um ofício que não requer cursos ou vestibulares.

É o da literatura, pois até hoje pessoa alguma exigiu de um escritor mais do que imaginação, fantasia e uma suave convivência com as letras.

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