segunda-feira, 29 de abril de 2024



29 DE ABRIL DE 2024
POLÍTICA +

Alckmin vai onde Lula não pode ir

Apesar de a relação com o agronegócio ter serenado na comparação com 2023, o presidente Lula achou por bem mandar o vice-presidente Geraldo Alckmin em seu lugar na abertura oficial (e sem público) da Agrishow, de Ribeirão Preto (SP). Com Alckmin foram também os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, com bom trânsito no setor, por ser produtor rural, e o ministro do Desenvolvimento Rural, Paulo Teixeira.

Alckmin, que é uma espécie de quebra-gelo na relação com empresários em geral, chegou à feira acompanhado da esposa, Lu. Os dois não hesitaram em colocar um chapéu na cabeça e andaram de mãos dadas entre os estandes.

A presença do vice, que também é ministro do Desenvolvimento, indica uma inflexão na relação com o agronegócio, depois do episódio de 2023, quando a abertura foi cancelada porque o ministro da Agricultura foi "desconvidado" pelos organizadores. Como o ex-presidente Jair Bolsonaro havia confirmado presença, a organização recomendou que Fávaro transferisse a participação para outro dia. O ministro da Agricultura estrilou e a abertura foi suspensa.

Desta vez, a abertura oficial ocorreu sem a presença do público, que participa a partir de hoje. E o governo foi elogiado pelo presidente da Agrishow, João Carlos Marchezan.

Prefeitura faz agora o que não fez antes da tragédia

A prefeitura de Porto Alegre poderia adotar como lema o adágio "porta arrombada, tranca de ferro". Só agora, depois que 10 pessoas morreram e 15 ficaram feridas no pior incêndio deste milênio na Capital, é que os técnicos vão fazer o que deveriam ter feito quando foram assinados os convênios para abrigar pessoas em situação de vulnerabilidade: visitar as pousadas e verificar se oferecem condições de segurança.

Por que isso não foi feito antes? Porque em nome da liberdade econômica, adotou-se o princípio da boa-fé. O empreendedor declara que seu negócio é de baixo risco, ganha uma autorização para funcionar sem necessidade de alvará e se compromete a encaminhar o plano de prevenção e combate a incêndios (PPCI).

A pousada que se incendiou era uma arapuca, segundo a descrição dos bombeiros. Podia ser tudo, menos um empreendimento de baixo risco. Mesmo assim, a prefeitura firmou convênios com a rede em 2020 e os renovou sucessivamente, a última vez em dezembro de 2023, por mais um ano, sem verificar se havia PPCI.

Essas pousadas não fazem nenhum favor. A prefeitura paga bem para que acolham moradores de rua, o que é correto em uma cidade com tanta gente sem teto, sem emprego e sem condições de retornar para a cidade de onde veio em busca de uma vida melhor.

Alguém sabia qual era o estado das camas e das divisórias? Sabia dos riscos de um sinistro? Conferiu se havia extintores? Pelo que se ouviu até aqui, não. A prefeitura confiou no que o proprietário pôs no papel.

Por que os abrigados não reclamaram? Ora, não estamos falando de Airbnb. Essas pessoas são quase invisíveis. Pobres, sujos e famintos, dão graças a Deus por encontrar um teto e não precisar dormir ao relento.

ROSANE DE OLIVEIRA

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