sábado, 6 de abril de 2024


06 DE ABRIL DE 2024
NOITE

QUANDO DORMIR É UM DESAFIO

COMO LIDAR COM OS PRINCIPAIS DISTÚRBIOS DO SONO

Durante a noite, o corpo realiza as principais funções reparadoras, tornando o horário de repouso essencial para a saúde física e mental. Mas muitas pessoas sofrem para dormir.

Os distúrbios do sono mais comuns são a apneia, a insônia, a síndrome das pernas inquietas, o sono insuficiente e o atraso de fase de sono. Todas essas doenças podem causar cansaço do corpo e da mente, irritabilidade e dificuldade de concentração, por exemplo.

Saiba mais:

Apneia obstrutiva do sono

A apneia obstrutiva do sono, doença caracterizada pela obstrução da via aérea na região da garganta durante o sono, é considerada preocupante. A condição leva a uma parada da respiração que dura alguns segundos. Responsável por causar o ronco, a apneia pode acontecer várias vezes durante a mesma noite.

Entre cinco e 15 apneias por hora, é considerado um quadro leve. Entre 15 e 30, é moderado. E, acima de 30 apneias por hora, representa uma situação mais acentuada. Idosos e pessoas com sobrepeso costumam ter essa condição com frequência. Nos casos leves, perder peso já pode ajudar a resolver - pontua o médico Denis Martinez, da Clínica do Sono.

Além da idade e do peso, o sexo também influencia. Segundo Martinez, a apneia é mais comum em homens, mas nos últimos anos, mais mulheres têm procurado ajuda para solucionar o problema. Quanto mais grave o quadro, mais o paciente acha que dorme bem - acrescenta.

Martinez conta que os pacientes costumam aparecer no consultório por causa dos cônjuges, que, por dividirem a mesma cama, acabam tendo o seu sono perturbado pelos roncos.

Além da perda de peso, as opções de tratamento podem incluir exercícios com fonoaudiólogo, medicações para casos leves, utilização de dispositivos que aumentam o calibre da via aérea e, até mesmo, cirurgias. O CPAP, aparelho que envia fluxo de ar para as vias respiratórias e impedem que elas fechem, é uma das alternativas frequentemente recomendadas para pacientes com quadros mais graves.

Insônia

O paciente com insônia costuma ter três tipos de queixa: dificuldade para começar a dormir, para manter o sono ou o despertar mais cedo do que o planejado. Se esses sintomas aparecerem ao menos três vezes por semana por três meses ou mais, se caracteriza um quadro de transtorno de insônia crônica. A doença causa dificuldades ao longo do dia, que vão desde humor mais ansioso e irritadiço até pouca vontade de interação social, diminuição do rendimento no trabalho e nos estudos, por exemplo.

- Uma das hipóteses para explicar a insônia é a conhecida como 3Ps. Predisponente, ou seja, fatores que favorecem o desenvolvimento da insônia. Mulheres e pessoas entre 20 e 40 anos com história familiar de insônia estão incluídas neste grupo (costumam ter mais esse quadro). Precipitante, que é um evento dramático na vida da pessoa que pode engatilhar a doença, como ficar desempregado ou a condição de saúde de algum parente próximo. E perpetuante, com crenças e hábitos pouco saudáveis para o sono, que é o que pode tornar a doença crônica - afirma o neurologista Fernando Stelzer, coordenador do Laboratório do Sono da Santa Casa de Porto Alegre.

A falta de higiene do sono pode fazer com que a insônia deixe de ser um sintoma pontual e vire uma doença crônica. Isso significa que se deitar sem estar com sono, assistir à televisão ou mexer no celular antes de dormir e usar a cama para outros fins que não descansar podem impactar diretamente na qualidade do sono e, consequentemente, na gravidade da situação.

- O principal tratamento é o suporte psicológico mesmo. A primeira escolha é a terapia cognitiva comportamental para insônia (TCCI), mas o psicólogo que não é especialista nisso também pode tratar a insônia. Pode-se fazer uso de remédios, mas eles vão apenas tratar o sintoma, e não a causa - defende Stelzer.

Síndrome das pernas inquietas

Na síndrome das pernas inquietas, o paciente costuma se queixar de sentir uma aflição entre o joelho e o tornozelo que só melhora ao mexer a perna. Essa sensação geralmente ocorre de tarde ou à noite, quando a pessoa está em repouso, sentada ou deitada. Os sintomas melhoram com o movimento, como caminhar, alongamento, ou mesmo com massagem. Segundo o especialista, a condição costuma ser confundida com outras condições, como ansiedade e, até mesmo, neuropatia do diabetes, que pode causar sensação de formigamento nos membros inferiores.

- A síndrome das pernas inquietas é a doença mais comum da qual ninguém nunca ouviu falar. Apesar do nome não ser conhecido, ela é bem comum, com estudos mostrando frequência de cerca de 6,5% entre os brasileiros. Nessa situação, em que a sensação só melhora ao mexer a perna, a pessoa tem dificuldade de pegar no sono e, em alguns casos, se movimenta muito durante a noite e, com isso, o sono fica picotado - explica Stelzer.

A doença melhora com a prática de exercícios físicos e com melhoria em alguns hábitos de vida, como a diminuição no consumo de cigarro e bebida alcóolica. Em casos em que os sintomas são mais frequentes ou intensos, é necessário tratamento com medicações, que pode incluir reposição de ferro ou uso de medicações psicoativas.

Sono insuficiente

O sono insuficiente, um dos distúrbios do sono considerados comuns pelo Ministério da Saúde, não é considerada uma doença grave. Segundo o neurologista Stelzer, essa condição pode ser considerada uma epidemia da sociedade moderna.

Pacientes com essa condição costumam não dormir o suficiente. Ou seja, a quantidade de horas de sono é inferior ao recomendado para a idade. Assim, a pessoa fica cronicamente privada de sono. A causa pode estar associada ao estresse, ansiedade, aos hábitos alimentares e à rotina, por exemplo.

Stelzer afirma, ainda, que a lógica do banco de horas não funciona para o sono. Portanto, não é possível dormir horas a mais ou tirar cochilos durante a tarde com o objetivo de compensar o sono insuficiente.

Atraso de fase de sono

A condição é caracterizada por quando o paciente demora a dormir, atrasando o início da fase de sono. Stelzer pontua que algumas pessoas costumam dormir e acordar mais cedo, enquanto há aquelas que preferem dormir e acordar mais tarde. O paciente com atraso de fase de sono costuma ter dificuldade para começar a dormir e, consequentemente, acaba acordando mais tarde.

O neurologista explica que o transtorno é mais comum em adolescentes, fase da vida em que os horários do sono nem sempre estão alinhados com os desejos sociais. Mas a condição pode aparecer em todas as idades, a depender da rotina e dos hábitos de cada paciente.

Produção: Yasmim Girardi

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