Existem mais vendavais previstos no nosso horizonte
Quem vai gostar são os fabricantes de velas. Esperando a luz voltar: mais um dia normal em Porto Alegre.Ruslan Batiuk / stock.adobe.com
No longínquo século 6, na Grécia Antiga, o filósofo Tales de Mileto esfregou um toco de âmbar em uma pele de carneiro e observou que pequenos pedaços de palha eram atraídos para ele. Âmbar, a resina fóssil que deu origem a pingentes, cinzeiros e outros objetos artesanais ao longo dos séculos, notadamente nos nossos anos de bicho grilo.
Perdão pela simplificação. Se o rapaz do experimento acima se chamasse Tajes de Mileto, não teria se dedicado à filosofia – de certo seria um escriba sem maior importância na sociedade da época – e esqueceria o assunto. É muito provável que sequer tivesse esfregado o âmbar na pele de carneiro, a estirpe dos Tajes, até onde eu sei, não se debruçou sobre os mistérios do mundo.
Só que o Tales era xarope e foi estudar o que havia acontecido. Primeiro pensou que tinha a ver com magnetismo, só que não. Ele havia descoberto a eletricidade estática. Se mais não digo é porque não entendo. Sempre fui um fracasso em física.
A roda do tempo gira e, no século 18, Benjamin Franklin pendura a famosa chave na pipa e vai empinar papagaio na tempestade. Olha a ideia do Benjamin. A coisa vai indo até que esses experimentos e mais todos os que se seguiram – nomes como Galvani, Faraday, Humpry Davy e Thomas Edison devem ser familiares para quem não foi uma nulidade em física – acabam levando ao maravilhoso advento da eletricidade.
Eu-re-ka. Quer dizer, eureka é coisa do Arquimedes, que descobriu no banho o princípio do empuxo. Novamente, melhor consultar a Barsa que confiar nas minhas explicações. Conta-se que Arquimedes ficou tão entusiasmado com sua descoberta que levantou da tina e saiu correndo nu pelas ruas de Siracusa, inaugurando também os preceitos do que viria a ser a saudosa Pedalada Pelada que um dia singrou Porto Alegre.
O que esses mestres todos não imaginariam é que nossa iluminada cidade de outros Carnavais chegaria ao ano de 2024 nas mãos da CEEE Equatorial. E isso, meus amigos, significa que o tempo das luzes já era. Das luzes, da água, da internet e de todas as facilidades que a eletricidade trouxe para a humanidade.
A CEEE Equatorial deixou o evento South Summit no escuro bem quando os participantes discutiam inovação, desenvolvimento y otras cositas que necessitam de energia para acontecer. Falando em inovação: já pensou o caos se Porto Alegre resolvesse investir pesado nos carros elétricos? No dia do aniversário da cidade, o Mercado Público estava às escuras. Carnes, queijos e peixes da Semana Santa virando prejuízo nas geladeiras desligadas.
No domingo, dia 24, 28 mil clientes da área de concessão da companhia ainda estavam sem luz por conta do vendaval de 21 de março. Mas tragédia mesmo foi o menino de 11 anos que morreu eletrocutado ao encostar em um fio solto. E três trabalhadores da companhia, mortos em 2023 por “erros operacionais grosseiros em razão da falta de domínio das funções por desqualificação das equipes”, segundo o Ministério do Trabalho.
Pobre Tales de Mileto. Soubesse que seu pioneirismo ia dar nisso, melhor ter se deitado na pele de carneiro e esculpido um coração no âmbar. Sem fazer a alarmista, prepara. Existem mais vendavais previstos no nosso horizonte.
Quem vai gostar são os fabricantes de velas. Para acender a faísca: vem aí mais uma Oficina do Subtexto da Cíntia Moscovich, com aulas pelo zoom e publicação de um livro no final do curso. Informações:
cintiamoscovich@mail.com.
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