terça-feira, 16 de abril de 2024


A opção pela dúvida

Uma foto já não vale mais do que mil palavras. Um vídeo, mesmo que tenha qualidade de filme de cinema, não serve para provar nada. Mensagens atraentes e convincentes nas redes sociais podem ser verdadeiras ciladas. De cada 10 telefonemas que a gente recebe de interlocutor desconhecido, 11 são golpes. E mesmo que a chamada venha de um conhecido também pode ser fraude. Como na célebre parábola judaica, a Mentira parece mesmo ter vestido as roupas da Verdade - e ficou tão impecável que fica difícil desmascará-la. Já não dá para acreditar em nada do que a gente vê, ouve ou lê, principalmente nos meios digitais, que se transformaram na Caixa de Pandora da era moderna.

Como vamos sair dessa enrascada? Não creio que sairemos. É a nova realidade. Mesmo que os legisladores nacionais e estrangeiros criem regras rigorosas para o uso da tecnologia e ameacem os infratores com punições exemplares, o mundo não vai girar para trás como no filme do Super-Homem. O regramento até pode ajudar, mas não substituirá o nosso livre-arbítrio para crer ou descrer.

Por isso é essencial apostar na educação, na preparação das pessoas para que não se deixem enganar e nem caiam na tentação de enganar os outros. Educação midiática é o nome da coisa. Orientação aos usuários dos meios digitais, incluindo aqueles que já nasceram com os dedos na telinha, para que aprendam a distinguir o bem do mal nesse ambiente propício à enganação. Numa só palavra, conscientização.

E o primeiro passo dessa estratégia talvez seja semear a dúvida onde há demasiada confiança. Invertendo a oração de São Francisco: onde houver fé, que eu leve a dúvida. Não se trata aqui de fé religiosa, mas sim de ingenuidade digital. Desconfiar das notícias, das imagens, dos vídeos, de tudo. Duvidar sem ficar com a dúvida. Esse é o foco da campanha institucional que a Associação Riograndense de Imprensa está lançando nesta terça, às 10 horas, em sua sede da Avenida Borges de Medeiros, 915. Duvide do que você vê, ouve e lê. Mas não fique com a dúvida. Consulte fontes confiáveis e recorra ao jornalismo profissional, que depende da própria credibilidade para sobreviver.

Os jornalistas certamente não são donos da verdade nem os únicos a reverenciá-la, mas, por formação e opção de vida, empenham-se em buscá-la onde estiver, mesmo sabendo que essa busca nunca termina. O que nos cabe é apurar bem os fatos, ouvir todos os lados e oferecer ao público informações honestas e equilibradas, para que cada pessoa forme sua própria convicção.

NÍLSON SOUZA

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