terça-feira, 30 de abril de 2024


30 DE ABRIL DE 2024
NÍLSON SOUZA

No centro

O Brasil já esteve acima de tudo, na visão ufanista dos criadores do antigo slogan oficial. Agora está no centro do mundo. Por obra e graça do IBGE, nossa pátria amada e idolatrada, às vezes também distraída e subtraída, migrou para a parte central do mapa-múndi. A novidade está fazendo sucesso. Segundo o próprio instituto, já tinham sido vendidos mais de 4 mil exemplares até a semana passada. Acho que nem o último livro do nosso talentoso escritor Tailor Diniz vendeu tanto em tão pouco tempo.

O cartograma foi apresentado no dia 9 de abril, num evento do G20 no Rio de Janeiro, e logo começaram a aparecer interessados. Os gestores do IBGE viram aí uma oportunidade de negócio e passaram a anunciar o desenho por R$ 10, mais o frete. Tá saindo como água.

É um pouco intrigante isso. O que será que as pessoas fazem com o mapa transfigurado? Penduram na parede da sala? Tiram selfies com ele? Talvez alguns até levem em viagens ao Exterior para que os estrangeiros saibam com quem estão falando. Sentir-se no centro do mapa planetário deve ter algum significado psicológico. Pelo menos a gente pode dizer que não veio do fim do mundo, como humildemente se posicionou o papa Francisco logo depois da fumaça branca de sua eleição.

Outra curiosidade em relação ao assunto, que também está servindo para acirrar a polarização (a política, não a geográfica), foi a recente postagem do atual presidente da República sobre a representação. Ele - ou algum assessor autorizado - colocou o novo desenho na sua rede social e legendou: "A Terra é redonda".

Deve ter sido um recado para os 7% dos seus apoiadores adeptos do terraplanismo, conforme mostrou recente pesquisa do Datafolha. Por uma questão de equilíbrio (ou de desequilíbrio, sei lá), é importante dizer que 8% dos apoiadores de seu principal opositor político também acreditam que podem desabar no espaço se fizerem alguma viagem longa. Considerando-se que aquela ilustração do IBGE é um planisfério, pode estar aí a explicação para a explosão de vendas.

Mas, falando seriamente, o mapa-múndi brasileiro tem lá a sua lógica. Embora todos tenhamos aprendido a ver o planeta representado sob a ótica do eurocentrismo, é daqui, deste recanto tropical da América do Sul, que os brasileiros observam o mundo. Então, faz todo o sentido nos colocarmos no centro. Desde que a gente não fique se achando muito importante por isso. O ufanismo também tem pernas curtas.

NÍLSON SOUZA

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