06 DE ABRIL DE 2024
DRAUZIO VARELLA
MACONHA AUMENTA RISCO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Está clara a relação entre maconha e aumento do risco de doenças cardiovasculares. Embora estudos anteriores tenham demonstrado essa correlação, sempre houve críticas às metodologias empregadas. Como confiar nos dados obtidos a respeito do uso de uma droga ilícita, quando o usuário enfrenta repressão social e até risco de encarceramento?
Com a legalização e o afrouxamento da legislação punitiva em vários países e em diversos Estados americanos, foi possível realizar pesquisas mais rigorosas. Os Estados Unidos são o lugar ideal para inquéritos com grandes números de participantes, por ser o país com mais usuários de drogas psicoativas no mundo, no qual o consumo de cannabis cresce a cada ano que passa.
Em 2002, a pesquisa National Survey of Drug Use and Health mostrou que 25,8 milhões dos americanos com 12 anos ou mais tinham fumado maconha pelo menos uma vez na vida. Esse número tinha ido para 48,2 milhões em 2019. Se as leis não tivessem mudado, quantas cadeias teriam que ser construídas?
Num trabalho que acaba de ser publicado na revista Nature Communications, foram entrevistados 430 mil adultos de 18 a 74 anos, com a média de 45 anos. Os que se identificavam como negros eram 11%, e as mulheres, 60%.
Cerca de 90% não usavam maconha, 7% usavam, mas não todos os dias, e 4% faziam uso diário. Fumavam maconha na forma de cigarros 74% dos usuários. Os demais faziam-no ingerindo ou vaporizando o THC.
Mais de 60% de todos os participantes nunca haviam fumado cigarros com nicotina industrializados. Entre aqueles que não usavam cannabis, esse número era de 64%, contra 44% nos usuários que faziam uso menos frequente e 28% nos que usavam todos os dias. Fumar maconha diariamente seria fator de risco para se tornar dependente de nicotina?
As conclusões mais importantes da publicação foram:
1) Fumar, ingerir ou vaporizar cannabis aumenta a probabilidade de desenvolver enfermidades cardiovasculares graves: doença coronariana, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, o AVC.
2) Quanto maior a frequência do uso, mais alto é o risco.
3) A relação se mantém independentemente da presença ou ausência de doenças cardiovasculares prévias, do consumo ou não de tabaco, de álcool, do Índice de Massa Corpórea, o IMC, de diabetes tipo 2 e dos níveis de atividade física.
Dito com outras palavras: seu risco de morrer de doença cardiovascular será mais alto, ainda que você seja magro, não fume, não beba, tenha glicemia normal e se mate de fazer exercício na academia.
4) O uso frequente, diário ou não, de cannabis aumenta em média 25% o risco de ataque cardíaco e de 42% o de AVC, quando comparado aos dos não usuários. Doses mais altas e mais frequentes provocam aumentos maiores.
5) Entre adultos mais jovens em risco de doença cardiovascular prematura (definida como a que ocorre em homens com menos de 55 anos ou em mulheres com menos de 65 anos), a probabilidade combinada de sofrer infarto do miocárdio e AVC foi 36% mais alta, independentemente de fumar cigarros, eletrônicos ou não, contendo nicotina.
6) Entre os usuários de cannabis que nunca fumaram cigarros industrializados ou eletrônicos contendo nicotina, o aumento de risco de doença cardiovascular persiste.
Na discussão da pesquisa, os autores reconhecem que os diagnósticos estudados foram relatados diretamente pelos entrevistados, não por seus médicos, dado que fica sujeito à memória dos participantes.
Por outro lado, o inquérito incluiu 430 mil adultos, número significativo que permitiu avaliar a associação de cannabis com doenças cardiovasculares em fumantes de tabaco ou não, numa época em que o número de usuários de cannabis aumenta, enquanto o de cigarros industrializados diminui.
Abra Jefferson, do Massachussetts General Hospital, em Boston, primeiro autor da publicação, diz que "fumar cannabis não é tão diferente de fumar tabaco, exceto pelo componente psicoativo, THC ou nicotina (...). O estudo mostra que fumar cannabis carrega risco de doença cardiovascular tão significativo quanto o tabaco".
Muitos fumantes de maconha tendem a menosprezar os efeitos indesejáveis. "Faz menos mal do que o cigarro", "é uma erva natural" ou "fumo todos os dias há 20 anos e nunca me viciei". Estão enganados.
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