Estado na contramão do país
O Rio Grande do Sul mostra desempenho diferente do observado no país. O Brasil registrou US$ 78,272 bilhões em exportações no primeiro trimestre deste ano, alta de 3,18% ante igual período de 2023.
Para os próximos meses, especialistas apontam que o cenário depende de questões internas e globais. Camila Flores Orth, da Unisinos, afirma que é difícil estimar o comportamento das exportações do RS diante de fatores que caminham em direções opostas. O dólar em alta pode ajudar momentaneamente os exportadores na rentabilidade. Mas incertezas sobre tensões internacionais seguram expectativas mais otimistas, segundo a especialista.
O professor Hélio Henkin, da UFRGS, afirma que a recuperação mais consistente das exportações depende de diversos fatores, como juro menor, reativação da economia de países importantes no comércio internacional e menos conflitos:
- Enquanto a China não recuperar crescimento e essa tensão geopolítica não atenuar, acho muito difícil que se retome um ritmo de crescimento do comércio mundial. A tendência é de dificuldade para uma retomada mais importante.
Giovani Baggio, economista- chefe da Fiergs, avalia que conflitos entre nações e falta de tração na economia de parceiros importantes, como Argentina e China, afastam um viés de inversão no cenário das exportações do Estado. Além disso, há os problemas domésticos, como mudanças na meta fiscal, que aumentam a incerteza. No entanto, não significa tombo acentuado nas saídas de produtos gaúchos, segundo o analista:
- Não vamos ter aprofundamento dessa queda do início do ano. A tendência é termos números melhores ao longo do ano, mas nada surpreendentemente positivo.
Com menor demanda de China, EUA e Argentina, vendas externas caíram 17,21% no período de janeiro a março de 2024
As exportações do Rio Grande do Sul apresentaram queda na arrancada de 2024. O total de vendas para outros países caiu 17,21% no Estado no primeiro trimestre ante igual período do ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. Além disso, teve o primeiro tombo nos embarques para o Exterior nos últimos anos nesse recorte de tempo.
Especialistas apontam que a retração ocorre na esteira da desaceleração da economia da China, da crise na Argentina e da menor demanda dos Estados Unidos, parceiro comercial que vinha se mostrando importante em um passado recente.
Para os próximos meses, projetam baixo otimismo para retomada diante de ruídos no âmbito internacional e incertezas fiscais no país.
No acumulado de janeiro a março deste ano, as exportações do Rio Grande do Sul somaram US$ 4,207 bilhões - US$ 875 milhões a menos do que o montante observado no mesmo período de 2023. Essa é a primeira queda nas vendas externas do Estado em um primeiro trimestre desde 2020.
Competitividade
A coordenadora da graduação em Ciências Econômicas da Unisinos, Camila Flores Orth, afirma que a crise na Argentina é um dos elementos que ajudam a explicar o recuo nas exportações do Estado neste início de ano. O país vizinho sofre com a mudança de governo e espera dos efeitos das primeiras medidas econômicas da nova gestão.
- Argentina é um dos nossos grandes parceiros, principalmente em produtos industriais, e a gente teve uma queda de 20% no período, que é um recuo significativo - explica Camila.
No comércio com a Argentina, as principais quedas ocorrem no âmbito de produtos ligados à cadeia automotiva, como peças e carrocerias, e de máquinas agrícolas.
Além da crise na Argentina e menor apetite dos Estados Unidos pelos produtos gaúchos, a professora afirma que existem problemas de competitividade. Com a China acelerando as suas exportações neste ano, o Estado perde participação em alguns mercados, segundo a especialista:
- Neste 2024, eles estão com essa política agressiva de retorno ao comércio Exterior. Com isso, a gente acabou perdendo competitividade em algumas inserções em mercados tradicionais nossos.
Concentração
O professor Hélio Henkin, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, afirma que o Estado sofre com a falta de avanço na diversificação dos produtos com potencial de exportação. Isso acaba afetando as vendas para outros países em períodos de menor demanda, aponta:
- Concentramos nossa produção na área agroindustrial. Não mantivemos ou ampliamos as exportações nas áreas que são menos vulneráveis às oscilações da demanda asiática.
Olhando pelos segmentos com maior queda nas exportações, soja, grupo de carnes, celulose e máquinas e equipamentos se destacam no primeiro trimestre.
Camila Flores Orth, professora da Unisinos, destaca que 85% das exportações gaúchas no primeiro trimestre ficaram dentro da indústria. Como o setor apresenta perda de ritmo em vendas externas e produção, acaba refletindo no total das vendas externas do Estado.
Olhando apenas a indústria, as exportações do setor apresentaram queda de 12,5% no primeiro trimestre, com US$ 3,6 bilhões em faturamento, segundo recorte feito pela Federação das Indústrias do Estado. O economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, afirma que esse dado preocupa:
- Isso liga um sinal de alerta, porque algo que já não vinha bem ficou ainda mais difícil neste início de ano.
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