quarta-feira, 10 de abril de 2024


10 DE ABRIL DE 2024
CARPINEJAR

O custo de vida nos EUA

Quando você viaja para os Estados Unidos, não deve ficar convertendo mentalmente o dólar em real, senão você pira e não faz mais nada. As férias morrerão de inanição. Amargará uma realidade cinco vezes desfavorável à sua moeda.

Um café expresso custará R$ 25. Um breakfast com ovos mexidos, bacon, pão e batata implicará R$ 100. Um jantar em família poderá atingir facilmente o montante de R$ 600, sem bebida alcoólica.

Se você é fumante, vai largar o cigarro no ato. Um simples maço comprometerá R$ 95 do seu orçamento. É impossível seguir com o tabagismo ou com uma existência ébria em terra estadunidense. A rua é uma clínica de desintoxicação.

Passeei com filho e esposa em Nova York durante 10 dias e juro que parei com o câmbio imaginário para não me desesperar, pois era como se eu estivesse perdendo dinheiro na frente de uma máquina caça-níquel. Passava mais tempo triste do que feliz, antecipando a hora de pagar a conta. Eu me contive no menu. Nem pedia outra porção para não me ver falido.

É um desencanto não ter uma moeda forte, porque influencia a forma como você é recebido. A falta de poder aquisitivo fecha portas. No momento da gorjeta, você deixa ao garçom, por tradição, de 20% a 22% da fatura. Ou seja, deposita sobre a mesa cerca de R$ 80. Não tem como não pensar que daria para viver de gorjeta. Das próprias gorjetas oferecidas.

Todo mundo percebe seu complexo de vira-lata, lustrando moedas e desamassando cédulas. Cada gesto público é um dólar a menos. São US$ 2 para a camareira limpar o quarto, mais US$ 2 para solicitar algum serviço extra no hotel. Eu vivia dizendo "sorry" para mim mesmo, esbarrando com o meu passado consumidor.

É como morar num aeroporto. Uma torrada é do preço de um almoço, um croissant é do preço de uma refeição completa.

Imagino a algazarra de quem viajou para os Estados Unidos entre 1994 e 1999. Nesse breve período, R$ 1 chegou a valer mais do que US$ 1 no bolso. O governo passou a controlar artificialmente a cotação da moeda norte-americana para estabilizar a economia do país, recém-saída de uma hiperinflação.

Com a implantação do Plano Real, em 1º de julho de 1994, R$ 1 correspondia exatamente a US$ 1. Era elas por elas, numa fase mágica de equiparação, num elo perdido de igualdade na balança comercial, facilitando compra de bilhetes aéreos, reserva em hotéis e aquisição de roupas e aparelhos. Em outubro do ano do pacote, o dólar se apresentou em torno de R$ 0,82. Nunca mais tal bonança turística irá se repetir.

Quis trazer esse paralelo para ilustrar como meu espírito de torcedor colorado vem sendo massacrado pela flauta na última semana. É uma desvalorização cambial com a ausência de títulos desde 2016. Ser colorado no Rio Grande do Sul é ser brasileiro de passagem nos Estados Unidos. Já o gremista parece aquele americano que vem ao Brasil e esnoba que seu dólar vale R$ 5.

Mas não se fie pelas aparências, o futebol gaúcho é dinâmico. Com a oscilação natural da secação, uma estrondosa desclassificação do Grêmio na primeira fase da Libertadores, esboçada por duas derrotas seguidas contra os inexpressivos The Strongest e Huachipato, coloca todo mundo no mesmo saco de dinheiro de novo.

O Inter precisa aproveitar os movimentos da gangorra. Só a garra, a vergonha na cara, a revolta, o fim da conversinha mole poderão nos devolver nossas vitórias em euro, afinal, já nos fizeram campeões mundiais em cima do Barcelona.

CARPINEJAR

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