quarta-feira, 3 de janeiro de 2024


02 DE JANEIRO DE 2024
NÍLSON SOUZA

Um golaço em Madri

Minha primeira crônica do novo ano é sobre futebol, mas não é sobre futebol. É sobre emoção. Como milhares de pessoas em todo o mundo, deixei escapar algumas lágrimas e virei o calendário com um pouco mais de esperança no coração depois de ver o vídeo de Natal do Clube Atlético de Madrid, um dos grandes do futebol espanhol. Talvez não seja tão grande quanto seu rival, o todo poderoso Real Madrid, de Vini Júnior, mas foi imenso na sua mensagem natalina.

Aí vem spoiler. Se a gentil leitora e o distinto leitor preferirem parar a leitura por aqui, o vídeo pode ser acessado em https://en.atleticodemadrid.com/. Se quiserem continuar comigo, será um prazer acompanhá-los nesta incursão pelo sensível e talentoso case de marketing que deu origem a este texto.

O filme mostra um motorista de táxi dirigindo por ruas desertas da capital espanhola, à noite, talvez de madrugada, quando avista um homem idoso parado na calçada, como se estivesse procurando alguma coisa. O condutor estaciona, desce do carro e pergunta ao estranho se está tudo bem. O velho senhor responde que sim, mas diz que não entende porque sua casa não está mais ali.

Percebendo a desorientação do idoso, o motorista descobre seu endereço e o coloca no banco de trás do táxi. Observando-o pelo retrovisor interno, procura puxar conversa.

- Noite fria, né? E o passageiro em silêncio. - O ano está terminando, né? Nada. Então ele resolve falar em futebol:

- Viu o jogo domingo?

Breve pausa - e o cérebro, até então adormecido, acorda. O passageiro confirma que viu o jogo e começa a falar com entusiasmo nos gols de Alfredo Di Stéfano, o grande ídolo de todos os tempos do Real Madrid, que encerrou sua carreira em 1966 e morreu em 1984. Discretamente, o motorista retira um objeto do painel do carro e continua a conversa sobre o fenomenal artilheiro argentino-espanhol, como se ele estivesse vivo e ainda atuando.

Finalmente, chega ao endereço e deixa o passageiro na segurança de sua família. Recusa qualquer pagamento pela corrida e por seu gesto, retoma o rumo do trabalho e só então pendura novamente o objeto retirado discretamente do retrovisor - uma flâmula vermelha e branca do Atlético de Madrid, inimigo tradicional do time de Di Stéfano e do passageiro.

- Acima do Atlético - informa a mensagem institucional -, estão os valores do Atlético.

Não é apenas o futebol que queremos, como sugere o vídeo no final. É o mundo que queremos. Golaço do clube espanhol, que deixou de lado a rivalidade histórica, reverenciou o maior ídolo do adversário e encantou a virada de ano de muita gente.

NÍLSON SOUZA

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