02 DE JANEIRO DE 2024
CARPINEJAR
O futuro ainda vai durar muito tempo
Todo mundo já dava por encerrada a disputa de quem foi o melhor nas últimas décadas entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Afinal, Messi conduziu a Argentina para o seu tricampeonato em 2022 e recebeu a Bola de Ouro pela oitava vez em 2023.
Mas Cristiano Ronaldo jamais desiste. Marcou 54 gols na temporada pelo Al-Nassr. Não há nenhum artilheiro com o mesmo faro de gol no planeta. Já tornou possível ultrapassar a marca lendária de mil gols, sendo todos aferidos pela Fifa, diferentemente de Pelé e Romário.
Está com 872 gols em 1.203 jogos oficiais (uma média de 0,72 gol por partida). Se continuar assim, dentro de dois anos e meio vai ser o jogador com mais gols na história. Pode separar o cimento para sua estátua ao lado de Eusébio. Parece que ele não envelhece, não se aposenta, não para. Sequer o futebol árabe serviu de acomodação.
Pelé pendurou as chuteiras aos 37, mesma idade de Maradona. Zidane se despediu aos 34, Ronaldo Fenômeno também. Já Cristiano Ronaldo segue marcando em alta performance aos 38 (completará 39 em 5 de fevereiro).
Enquanto Messi ensaia uma retração da carreira, com 11 gols no Inter Miami e 821 no geral, o seu rival histórico intensifica a pontuação. Brilha mais com o apagar das luzes da sua geração, num fulgor absolutamente pessoal e incompreensível. Talvez ele mude a noção de temporalidade e resistência do esporte, aumentando a tábua de longevidade. Não duvido que esteja em atividade bem depois de quarentão, assombrando estatísticas, quebrando paradigmas.
É um recordista em vários quesitos:
Mais presenças na fase final da Euro: cinco.
Mais jogos na fase final da Euro: 25.
Mais jogos na Euro (incluindo eliminatórias): 63.
Mais gols na fase final da Euro: 14.
Mais gols na Euro (incluindo eliminatórias): 49.
Mais fases finais da Euro a marcar: cinco (2004, 2008, 2012, 2016, 2020).
Único jogador a marcar três gols em fases finais diferentes da Euro: 2012, 2016 e 2020.
Único jogador a marcar gols em cinco fases finais do Mundial: 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022.
Primeiro jogador a marcar 10 hat-tricks por uma seleção.
Mais jogos na fase final da Euro e do Mundial: 47.
Mais gols na fase final da Euro e do Mundial: 22.
Mais jogos por uma seleção: 205.
Mais gols por uma seleção: 128.
Se ele não levou sua seleção ao título mundial, fez o máximo que podia diante das limitações do plantel: campeão da Eurocopa e semifinalista da Copa do Mundo. Para a estatura do seu país no passado, alcançou já o impossível. Não é viável comparar Portugal com a Argentina.
Em número de títulos conquistados por times, Lionel Messi tem vantagem com 38 troféus. Cristiano Ronaldo conquistou 31 taças nos cinco clubes que defendeu ao longo da carreira. Na comparação de Ligas dos Campeões, é Cristiano Ronaldo quem tem a liderança. O português ostenta cinco conquistas contra três de Messi.
Existe ainda a questão de aclimatação e resiliência. Messi se restringiu a atuar na Espanha, França e agora experimenta os gramados estadunidenses. Cristiano Ronaldo, por sua vez, enfrentou os campeonatos mais difíceis da Europa, como o Italiano e o Inglês, além do próprio Espanhol.
Enquanto Messi se caracteriza pelo gênio driblador, Cristiano se fundamenta na arrancada e finalização com os dois pés e cabeçada com perfeição. Messi é um extraterrestre da habilidade em espaço curto, Cristiano é um super-homem, uma máquina de resultados e de eficiência. O primeiro desconcerta, o segundo resolve. O primeiro é inspiração, lampejo, transcendência; o segundo é depuração, treino, suor.
O enigma de quem é melhor permanecerá em aberto por um longo período. É temerário fechar as apostas. O futuro dirá. Mas, para o atleta nascido na Ilha da Madeira, "o futuro ainda vai durar muito tempo", para usar cara expressão do filósofo franco-argelino Louis Althusser.
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