O preço de se importar com a opinião dos outros
Viver é correr riscos. Amar é assumir riscos. Ao se importar com o que os outros pensam, você não faz mais nada da sua vida. Desiste antes de tentar. Desiste antes de ser.
Se você ficar rindo à toa, vai parecer bobalhão. Se você chorar por qualquer coisa, vai parecer deprimido. Se você for generoso e confiar em estranhos, vai parecer ingênuo. Se você se declarar a alguém, vai parecer piegas.
Se você jamais falar o que sente, vai parecer indiferente. Se você for fiel, vai parecer conservador. Se você largar emprego para viajar, vai parecer louco. Se você se priorizar, vai parecer egoísta. Não pode ser inteiro com seus sentimentos, mostrar-se comovido às mais diferentes situações. Franqueza é percebida como fraqueza. Instabilidade é identificada como despreparo.
Não desfruta do direito a ser feliz ou triste publicamente. Lágrimas são indesejadas, gargalhadas são proibidas. Qualquer gesto deve depender de um contexto, de uma justificativa, de um motivo. Ou você segue o rebanho do medo, ou é dado como perdido. Ou você finge equilíbrio, disfarça as suas emoções, ou passa a ser visto como dramático e exagerado.
Não tem escapatória. Sempre será julgado pela normalidade, sempre será classificado de acordo com a mediocridade, sempre será desfavorecido por um padrão dominante de comportamento.
Saúde mental é ter coragem de se expor e não se adequar às reações alheias. Ou ter coragem de não se expor e alimentar um mundo secreto de seus contentamentos, independentemente do senso comum.
De tanto que pretende ser sociável, você se anula e some da sociedade. Você não terá histórias para contar. Não terá romances para produzir saudade. Não terá façanhas para se orgulhar. Não terá sequer gafes para se conhecer melhor. Não experimentará seus limites e se acomodará num papel definido por terceiros: de figurante de sua própria trajetória, de sócio minoritário de sua própria existência.
Começará a agir por autorizações de familiares, por aprovações de empregadores, pela unanimidade impossível, pelo consenso insuportável, para corresponder às expectativas dos mais próximos.
A obediência ao coro geral e a submissão estão separadas por alguns centímetros. Jamais conhecerá a liberdade da tentativa. Começará a não viver para não chamar atenção, para não gerar escândalo, para não entrar em conflitos, para não suscitar incômodos, para não perturbar a ordem das vaidades nas redes sociais.
Não fará festa no seu apartamento para respeitar o silêncio dos vizinhos, não oferecerá a sua opinião numa reunião por receio das manifestações dos colegas. Desaparecerá na rotina, encolhido por futuros danos, com seus dons atrofiados.
Mire-se no exemplo de João Gilberto. Diziam que ele era desafinado. Se ele levasse a sério as críticas, nunca surgiria a Bossa Nova. Ele transformou seus arroubos jazzistas em manifesto. Pessoas intensas são malvistas, mas garanto que elas são as mais realizadas.
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