segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023


27/02/2023 - 16h29min
Fabrício Carpinejar

Não banalize o eu te amo

Quando você diz eu te amo para alguém, está dizendo para si mesmo. Você está se amando mais a partir do amor pelo outro. Não banalize o eu te amo no relacionamento dizendo a toda hora. Ele não pode faltar, mas tampouco pode sobrar. Quem muito diz parece que não acredita nisso, parece que tem dúvida, parece que está tentando se convencer desse amor. 

Torna-se chato e repetitivo, forçando algo que deveria ser espontâneo. O eu te amo é um amor projetado para fora de si que retorna ainda mais forte para dentro de si. Declaração de amor é também silêncio, compreensão, respeito, mãos dadas, abraço, cumplicidade, conselho, colo, cafuné, carinho nas costas.

O eu te amo falado é uma gota de perfume no pescoço. Uma gota de aroma no mar salgado da pele. Quando ostensivo, vira bajulação. Quando excessivo, enjoa. Quando borrifado em demasia, cria repulsa. O eu te amo não pode ser um mero cumprimento, para encerrar uma conversa, para desligar o telefone, para sair de um assunto desconfortável, como um tchau: “eu te amo tchau!”.

O eu te amo não pode ser feito como um pedido de desculpa, para apoiar um pedido de desculpa, para fortalecer um pedido de desculpa: “eu errei, mas eu te amo, tá?” Daí não é mais eu te amo, é barganha, desconto, isenção de responsabilidade, impunidade diante de uma grosseria.

O eu te amo não pode ser usado sem ênfase, sem emoção, sem vontade, sob o risco de mudar a direção da boca, de esvaziar a palavra de sentido. O eu te amo deve ser dito quando o amor transborda, pela presença festejada, jamais como socorro, quando o amor falta, devido à carência.

O eu te amo não é para chamar a atenção: “olhe para mim!”, é quando você está pleno de atenção, devidamente observado. Não é insegurança e medo de ficar sozinho, mas confiança e convicção de que anda muito bem acompanhado.

O eu te amo não é proferido para ouvir o mesmo de volta, para controlar o tamanho do amor sentido pelo seu par. É uma potência verbal que se basta. O eu te amo é gratidão, quando você reconhece tudo de bom que o outro faz em sua vida. O eu te amo é um “obrigado por existir”.

O eu te amo é um amor projetado para fora de si que retorna ainda mais forte para dentro de si. Quando você diz eu te amo para alguém, está dizendo para si mesmo. Você está se amando mais a partir do amor pelo outro.

Em minhas idas ao cinema com Beatriz, minha esposa, um pouquinho antes de o filme começar, com o fim dos trailers, ela sempre se aproxima de meu ouvido e me sussurra “eu te amo”. É uma cena poderosa incansavelmente repetida e exaustivamente aguardada por mim. Mesmo antevendo que sua frase virá, eu me arrepio de novo. Já não sei se vou ao cinema pelo filme ou para ouvir o eu te amo sussurrado de Beatriz.

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