terça-feira, 14 de fevereiro de 2023


14/02/2023 - 08h00min
Adriana Antunes

Amar é voar nas asas de uma libélula

Se o amor é uma espécie de dança, então ele dá passagem para a compreensão, entendimento, vida.

Amar é um outro jeito de dançar. Não importa a música, o ritmo ou a sapatilha. Alguns dançam de olhos fechados, porque de tanto tempo juntos já conhecem o compasso do outro. Uns dirão que amar assim é mais do mesmo. Mas na verdade é preciso amadurecer muito para viver um amor tranquilo. Outros dançam de olhos abertos, mirando a passada, cuidando para que o bailado não pese, porque amar é sustentado por uma dupla que sabe o quanto desejar e ser desejado são as asas de um mesmo pássaro. 

Então, de quando em quando se olham, conversam pelo olhar, sorriem, se oferecem flores, se entregam aos abraços. Se desconhecem também, porque conhecer uma pessoa profundamente é desconhecer o conhecido. É estranhar mesmo depois de anos juntos e mesmo assim continuar amando. É suportar a mudança de pele. Envelhecer juntos é observar a troca de pele do outro. Ver descamar. Acompanhar na espera e na presença. É descamar também. É aceitar o novo no velho e descobrir que o velho é a casa da alma de quem já muito andou. Atravessado pelo tempo mostra suas marcas e cicatrizes, afinal, nenhum amor é imune a cicatrizes, mas que elas nunca foram grilhões. Pelo contrário, contam de uma história que é impregnada de cotidiano.

Quando se ama aprendemos que os melhores momentos não precisam de objetos caros para se comemorar uma data. Descobrimos que somos carentes de palavras de amor. Carecemos de sorrisos que nos convidem a navegar o dia como quem atravessa um oceano de provações, sabendo que ele será pesado ou tedioso, mas que a embarcação é segura.

Nessa dança de acasalamento, aprendemos que amar não é isso. Mas é também. Porque amar é voar nas asas de uma libélula e não se angustiar com o silêncio do outro. Afinal, toda tarde em algum momento é feita de vazio.

Toda dança, quando boa, nos faz derreter. Quando derretemos somos mais maleáveis, mais abertos, menos cheios de certezas, menos chatos. Somos mais agora, mais letra, língua, travessia de linha. Nos misturamos. Não se pode amar sem se misturar um pouco. Sua família, minha família. Nossos projetos. Nosso filhos. Amar é dançar na terra do outro de pé descalço. Se sujar de lama e depois tomar banho de mangueira. Mas cuidado para não se diluir demais. Diluir no outro em excesso é perder a essência. Controlar seus limites é possuir a si mesmo, porque o limite de até onde podemos ir será sempre um princípio e nunca um fim.

Se o amor é uma espécie de dança, então ele dá passagem para a compreensão, entendimento, vida, como o fecho do entardecer, que faz o dia escurecer e a noite acordar. Cada um de nós carrega um talento próprio para a própria dança. Uns encontram seus pares logo cedo, outro só no fim da festa, outros ainda vão ter de ir em muitos bailes até achar um par. No entanto, desde o começo, o fundamental, é saber que você precisa antes aprender a dançar sozinho, porque a festa da vida um dia termina e aprender a reconhecer o próprio ritmo é o que nos salva da dor imensa.

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