20 DE FEVEREIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
ESTIAGENS EANÚNCIOS REPETIDOS
A cada nova estiagem no Rio Grande do Sul, os governos da ocasião são pressionados a anunciar medidas de caráter imediato para acudir os produtores atingidos e ações que façam o Estado, no futuro, sentir menos os efeitos da falta de chuva. Não é por falta de anúncios nas últimas décadas que os agropecuaristas gaúchos ainda penam com os reflexos das precipitações escassas e irregulares em muitos verões, causadoras de angústia no campo e perdas bilionárias na economia.
Iniciativas de curtíssimo prazo são indispensáveis. Anistias para minifundiários, renegociação de dívidas, remessa de cestas básicas, envio de caminhões-pipa para regiões onde falta água até para o consumo humano são alguns dos procedimentos usuais para atender às necessidades mais urgentes e fazer com que os proprietários rurais possam seguir em suas atividades, na esperança de que no próximo ano será diferente. O Piratini expôs na sexta-feira pela manhã as suas ações e, à tarde, foi a vez de o governo federal anunciar recursos para 15 municípios gaúchos.
O fato é que, nos últimos quatro verões, o Rio Grande do Sul teve três estiagens. Secas não são novidade no Estado, mas não é prudente negar que as mudanças climáticas trazem ainda mais incertezas, aí incluído o risco de falta de chuva mais frequente no verão, período mais importante para a agricultura.
É inescapável, portanto, estruturar programas perenes que tenham continuidade mesmo com a troca de governos, para o Rio Grande do Sul, na velocidade possível, ao longo dos próximos anos e décadas, fazer investimentos e adotar manejos que mitiguem os efeitos de estiagens. A necessidade de ampliar a área irrigada é unanimidade, mas ao mesmo tempo existem entraves que vêm se mostrando quase intransponíveis.
Não é em todas as propriedades que a irrigação por pivôs é possível. Mas onde é, muitas vezes a construção de reservatórios esbarra na legislação ambiental, na falta de energia para os equipamentos e mesmo no alto custo do investimento. Na questão ambiental, apesar das promessas, são tímidos os avanços que poderiam encontrar espaço para flexibilização das normas atuais, o que, antes de tudo, deve ser discutido à luz do conhecimento científico, para evitar mais problemas no futuro.
Seja por excesso de burocracia, falta de recursos, impedimentos próprios de período eleitoral, desmobilização após safras beneficiadas por boas precipitações ou outra razão qualquer, o irretorquível é que, em regra, medidas de médio e longo prazos anunciadas não alcançam os objetivos propostos. Um caso ilustrativo é o das grandes barragens de Jaguari e Taquarembó, na Metade Sul. Pelo cronograma inicial, as obras iniciadas em 2007 deveriam estar prontas em 2010. Mas seguem inconclusas. O mesmo acontece com microaçudes e poços artesianos.
A prova de que o quadro de escassez de chuva se tornou mais dramático nos últimos anos é o consenso de que a construção de cisternas, estratégia usada no semiárido nordestino, se tornou indispensável em alguns pontos do Estado. Melhorar a convivência com estiagens exige ainda a adoção de técnicas conservacionistas que façam o solo reter mais umidade, cuidados com nascentes e matas ciliares e pesquisa para, por exemplo, desenvolver cultivares mais resistentes ao estresse hídrico. As soluções são transversais e com implementação paulatina, mas determinada, para que os prazos não fiquem cada vez mais dilatados.
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