18 DE FEVEREIRO DE 2023
OPINIÃO DA RBS
RIOS E SOLUÇÕES CONJUNTAS
As imagens de uma espécie de ilha de lixo do tamanho de um campo de futebol vistas nos últimos dias em um trecho do Rio Gravataí, em Cachoeirinha, na Região Metropolitana, chocam e convidam à reflexão. Quem conhece a área diz que a estiagem, por ter diminuído o nível do curso de água, causou a desoladora aglomeração de material flutuante.
É possível concluir, portanto, que se o Estado atravessasse um período de chuvas normais, todos aqueles sacos plásticos, garrafas, latas, espumas de colchões, pedaços de isopor, partes de móveis e recipientes de todo tipo seguiriam o seu caminho até o Guaíba. Como o descarte de detritos e resíduos no Gravataí também não é novidade, pode-se depreender que é considerável o volume de lixo que singra a parte mais baixa do rio até sabe-se lá onde, além do que fica depositado em seu leito.
A partir da visão aterradora, a prefeitura de Cachoeirinha, com a ajuda de outros órgãos, agiu com a instalação de barreiras e com a contratação de uma empresa que nos próximos dias deverá retirar o material. A questão, no entanto, é bem mais profunda. Uma solução verdadeira, para que as cenas lastimáveis não se repitam, deve perseguir o fim do descarte irregular de lixo no Gravataí e em seus afluentes.
É uma tarefa complexa, que envolve várias frentes nos municípios que compõem a bacia hidrográfica. Passa, por exemplo, pelo aperfeiçoamento da coleta do lixo e pela educação ambiental, com conscientização da população sobre a importância do acondicionamento e da destinação correta dos detritos de residências e propriedades rurais. Uma atenção especial deve ser dedicada às escolas, para que as crianças aprendam o valor das atitudes que não agridem a natureza e levem essas informações para casa. Mesmo assim, estratégias como a instalação de ecobarreiras em arroios tributários são medidas possíveis para evitar que o lixo jogado siga rio abaixo.
Dez anos atrás, o IBGE divulgou um levantamento mostrando que o Rio Grande do Sul tinha três dos 10 rios mais poluídos do país. Um deles era o Gravataí. Os outros dois eram o Sinos e o Caí. Não existe bala de prata. Modificar esse quadro requer políticas de longo prazo e persistência.
No caso do Sinos, por exemplo, houve um acontecimento apontado como um marco que acabou se transformando em um ponto de virada. Foi em 2006, com o episódio considerado uma das maiores tragédias ambientais do Estado, quando uma alta carga de poluição causou morte de toneladas de peixes, gerando cenas terrificadoras como as de agora. Criou-se então o Consórcio Pró-Sinos, com 28 municípios, que ao longo do tempo vem trabalhando pela melhoria da qualidade da água, com monitoramento, educação ambiental e fiscalização, entre outras ações.
Há pela frente desafios como o de cumprir os objetivos do novo Marco Legal do Saneamento. Já existem avanços na Região Metropolitana. A parceria público-privada entre a Corsan e a Aegea elevou em 32% o número de residências ligadas à rede de coleta e tratamento de esgoto nos últimos dois anos. Os rios da região agradecem. Outra necessidade é implementar as diretrizes do Plano Nacional dos Resíduos Sólidos, válido desde o ano passado, com diretrizes como elevar a reciclagem e acabar com lixões e aterros sanitários.
O próprio Pró-Sinos tem em andamento estudos para estruturar uma concessão do serviço de gestão de resíduos sólidos, fruto de uma parceria com a Caixa. O município de Cachoeirinha foi convidado a aderir à iniciativa no início deste ano. Soluções para problemas ambientais, sem dúvida, passam por uma atuação conjunta de prefeituras de uma mesma região e necessitam de persistência para alcançar metas que protejam os mananciais e a saúde da população.
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