Como 'Titanic', que volta aos cinemas em 3D, dialoga com os problemas sociais de hoje
Filme reestreia aos 25 anos e terá como concorrente 'Avatar:
O Caminho da Água', mais novo blockbuster de James Cameron
8.fev.2023 às 7h00 - Atualizado: 8.fev.2023 às 15h37 - Leonardo Sanchez - SÃO PAULO
Dos quatro filmes de maior bilheteria da história, três são
de James Cameron, graças ao novo "Avatar: O Caminho da Água". Da
mesma forma que ele, os outros dois alcançaram tal feito em seu lançamento
original, mas isso não impediu seus estúdios de, anos mais tarde, os relançarem
nos cinemas, inflando ainda mais os números.
Cena do filme "Titanic"
Cena do filme "Titanic" - Divulgação
Foi assim no ano passado com o primeiro "Avatar"
e, a partir desta quinta-feira, o mesmo acontece com "Titanic",
vencedor de 11 estatuetas do Oscar que volta às salas em versão remasterizada
em 3D. O navio de Cameron já havia cruzado os cinemas no formato antes, mas
retorna especialmente para as comemorações de 25 anos da história de amor em
alto-mar.
Não é, no entanto, por causa das dimensões do desastre
ocorrido em 1912 que a obra ganhou atemporalidade. Pouco importa o naufrágio,
na visão do cineasta. É o romance em seu centro que tem levado diferentes
gerações ao cinema cada vez que "Titanic" zarpa rumo às salas.
"Tragédias muito maiores aconteceram desde então, mas a
do Titanic tem uma qualidade novelística que perdura. E no cerne está um
coração partido. Nós plantamos uma história dentro do que já era uma história
incrível, e uma coisa elevou a outra, o desastre e o romance", afirma o
cineasta, em conversa com jornalistas.
Em 2012, quando o público pôde ver o filme em 3D pela
primeira vez, "Titanic" conquistou impressionantes US$ 343 milhões de
bilheteria, cerca de R$ 1,7 bilhão. É difícil pensar que as cifras vão se
repetir agora, mas ao menos por uma semana não haverá iceberg no caminho do
longa –ele tem como maior concorrente justamente "Avatar: O Caminho da
Água", que vem perdendo o fôlego.
Apesar dos 25 anos que separam a estreia de agora, Cameron
aposta que, além do romance, também devem chamar público aos cinemas os temas
que, lá atrás, pouco importaram para o sucesso, mas que hoje estão em alta
diante de uma geração feminista e da onda de ataque aos super-ricos vista nas
telas.
Para ilustrar, o cineasta lembra uma das cenas mais icônicas do longa, aquela em que Rose, a mocinha vivida por Kate Winslet, precisa se apertar dentro de um espartilho. Ela detesta os vestidos exagerados que desfilam pela primeira classe do navio e chega a contemplar o suicídio como forma de fugir das amarras sociais e da vida pré-determinada à sua frente.
E então Jack, personagem de Leonardo DiCaprio, entra em
cena. "Titanic" pode soar ultrapassado numa era em que princesas da
Disney já não terminam com príncipes, mas a possibilidade de escolha —de se
apaixonar por alguém livre e que não pertence àquela elite esnobe— é
revolucionária no contexto.
Até porque basta olhar os números da tragédia real,
mencionados por Cameron para mostrar a urgência de se debater temas como
desigualdade social e a crença cega numa noção equivocada de progresso. Foram
os passageiros da terceira classe os que mais morreram no naufrágio de um navio
vendido como praticamente incapaz de afundar –76% daquele setor pereceu, contra
58% da segunda e 39% da primeira classe.
"Agora nós nos deparamos com outra tragédia, a crise do
clima, e também não podemos dar meia-volta neste navio. Adivinhe quem vai ser
mais atingido pelas consequências disso? Os países mais pobres, enquanto os
ricos definem a rota em direção ao iceberg. ‘Titanic’ talvez esteja mais atual
do que jamais foi", afirma Cameron.
Mesmo defendendo um discurso politizado, ele cede e reforça
que, no fim, dá para esquecer a "intelectualização" e só aproveitar a
história de amor. Falamos, afinal, do filme de um cineasta que sabe criar
espetáculos grandiosos como poucos.
Para "Titanic", Cameron e sua equipe recriaram o
colosso flutuante em estúdio, e ele alerta para um erro ao qual muitos incorrem
ao falar da empreitada –o navio do filme era em escala real, não reduzida.
Algumas seções da embarcação foram descartadas na versão de mentira, mas o que
foi replicado ganhou tamanho semelhante ao original.
Não bastava que a réplica tivesse cerca de 230 metros de
comprimento e estivesse num tanque de água enorme, que sozinho custou US$ 40
milhões. Cameron ainda orientou sua equipe a contratar figurantes que não
tivessem mais do que 1,7 metro de altura, para realçar a grandiosidade da
embarcação aos olhos do espectador.
Avatar: O Caminho da Água' dá sequência ao filme de James
Cameron
Em meio às comemorações de um quarto de século de
"Titanic", é curioso que o último longa do cineasta seja
"Avatar: O Caminho da Água", que também mergulha no oceano. Mas não é
coincidência, diz Cameron. Mergulhador profissional, ele tem no mar uma de suas
grandes paixões.
"Eu tirei meu certificado de mergulho aos 15 anos e só
virei cineasta aos 26. Então eu cheguei a ‘Titanic’ com duas paixões já muito
estabelecidas, que ainda hoje me acompanham", diz. "Os oceanos são
uma parte indispensável do meu ser criativo e das minhas motivações."
TITANIC
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