Sistemas demais, irritação demais
Quando a televisão dava seus primeiros passos comerciais nos Estados Unidos, no início da década de 1940, quatro sistemas diferentes de transmissão de imagem lutavam para se estabelecer no mercado. Cada um deles afirmava ser "o melhor". Nessa briga, um detalhe chamou a atenção dos consumidores: como não havia um padrão técnico definido, cada sistema exigiria um aparelho receptor diferente. Os telespectadores que desejassem ter acesso às quatro diferentes programações, teriam que comprar quatro TVs. É óbvio que alguma coisa deveria ser feita para evitar essa balbúrdia nos lindos apartamentos de Nova Iorque.
Surgiu então o NTSC, National Television System(s) Committee (Comitê Nacional do(s) Sistema(s) de Televisão). O governo norte-americano forçou as empresas a estabelecerem um padrão: a imagem (em preto-e-branco) deveria ter 525 linhas e 29,97 quadros por segundo. Pronto! Um único receptor ficava apto a receber todas as emissões. Surgiu a expressão "trocar de canal". O resto é história: todos sabemos o sucesso da TV como meio de comunicação e entretenimento. Claro que o Brasil fez a burrada de começar com o NTSC e, quando chegaram as cores, passar para o sistema germânico PAL (já que a nossa ditadura estava comprando usinas atômicas da Alemanha), criando assim o híbrido PAL-M, uma aberração tecnológica que muito nos irritou e atrasou.
Estamos em 2023, a televisão é digital, mas a irritação continua, localizada nos sistemas de streaming. Como cinéfilo e profissional da área, assino os conteúdos de três diferentes programadoras, cada uma com seu pacote de filmes e séries. Mesmo gastando um bom dinheiro mensalmente, volta e meia quero assistir a um filme ou a uma série e não consigo, porque é produto exclusivo de outro comerciante de entretenimento audiovisual. Ou, o que ainda é mais irritante, poderia assistir, mas só pagando um aluguel individual, pois é um "conteúdo premium". Santa Paciência, Batman! Aposto que minha frustração é compartilhada por milhares de pessoas.
Tá na hora de acabar com essa balbúrdia! É como se tivéssemos de comprar várias TVs para a sala. Sei bem que agora não é uma questão a ser resolvida tecnicamente, como foi o NTSC. O furo é mais embaixo. São empresas bilionárias (e também algumas mais modestas) brigando para fazer a maior quantidade de dinheiro possível com sua plataforma exclusiva. Mas não custa perguntar: se elas sentassem à mesa e estabelecessem um sistema único de distribuição não seria mais lógico e, a longo prazo, muito mais lucrativo? E muito menos irritante para os consumidores?
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