25 DE FEVEREIRO DE 2023
CINEMA
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Está em sessões de pré-estreia neste fim de semana nos cinemas Espaço Bourbon Country e GNC Moinhos, na Capital, e entra em cartaz no dia 2 Close (2022), filme indicado ao Oscar internacional e dirigido pelo belga Lukas Dhont. Este triste e belo drama sobre amizade, masculinidade tóxica e homofobia na adolescência recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, onde Dhont já havia sido premiado por seu primeiro longa, Girl (2018, na Netflix), com o Camera dOr, a Palma Queer e o troféu da crítica. Na trama, uma bailarina transexual de 15 anos enfrenta barreiras físicas e emocionais ao lidar com sua transição de gênero.
A aclamação no festival francês, a sua nacionalidade e o foco na adolescência permitem filiar Dhont, 31 anos, aos irmãos Jean-Pierre, 71 anos, e Luc Dardenne, 68. A dupla belga acumula prêmios em Cannes e retratou jovens ou adolescentes em títulos como Rosetta (1999) , O Filho (2002), O Garoto da Bicicleta (2011) e O Jovem Ahmed (2019).
Embora os Dardenne sejam cronistas da classe trabalhadora e da população imigrante e Dhont aborde questões de gênero e sexualidade, percebe-se uma aproximação também na forma como esses diretores contam suas histórias. Em Close, a abordagem é tão realista, tão naturalista, que por instantes podemos achar estar vendo um documentário. Mas essa impressão é logo desfeita pelo talento do ator novato Eden Dambrine. Seu rosto e seu corpo prescindem da palavra para transmitir todos os sentimentos e dilemas do protagonista.
Trata-se de Léo, 13 anos, filho caçula de agricultores que cultivam flores e melhor amigo de Rémi (Gustav De Waele), que tem a mesma idade e estuda oboé. Por estarem sempre juntos, brincando no escuro, correndo no campo, andando de bici, Léo é chamado de "filho do coração" pela mãe de Rémi, Sophie (Émilie Dequenne, premiada em Cannes por um filme dos Dardenne, Rosetta).
Os dois garotos não se desgrudam, inclusive dormem abraçados. Mas não são namorados. Ou não importa se são ou não são, como disse Lukas Dhont em entrevista à Vanity Fair:
- Sempre disse aos atores de Close: "Não me importo com a sexualidade desses personagens, se Léo e Rémi são gays ou não". Quando leio relatos de meninos como eles, alguns podem ser queer, outros não. Mas eles compartilham essa experiência de estarem desconectados uns dos outros pelos códigos de comportamento ligados ao corpo em que nasceram. Para mim, o ponto do filme é nos fazer sentir que matamos a bela amizade entre meninos desde muito jovens. Tentamos fazer um filme sobre a fragilidade, sobre a ternura, mas também sobre o que acontece quando privamos os jovens dessa fragilidade, dessa ternura.
Na mesma entrevista, Dhont falou sobre uma inspiração para Close, que ele escreveu com Angelo Tijssens, coautor de Girl. Foi uma pesquisa da psicóloga estadunidense Niobe Way, que acompanhou a vida de 150 garotos ao longo de cinco anos:
- Quando ela os entrevistou aos 13 anos, eles se atrevem a usar a palavra "amor" ao falar sobre seus amigos. À medida que envelhecem e as expectativas de masculinidade se tornam mais fortes neles, ficam totalmente desconectados dessa linguagem. Vivemos em uma sociedade onde masculinidade e intimidade são conceitos muito difíceis de unir. Dizemos aos homens que o único lugar onde podem encontrar intimidade é através do sexo e que expressar amor e vulnerabilidade para outro homem é algo incrivelmente complexo. Frequentemente, temos imagens de comportamento tóxico, de violência, de guerra, quando se trata de masculinidade, mas raramente vemos uma amizade íntima e bonita em que dois meninos se deitam juntos na cama e só querem estar tão perto (close, em inglês).
Eis o conflito: após as férias, ao voltarem à escola, Léo e Rémi são confrontados por perguntas e piadinhas homofóbicas dos colegas. Os espaços a céu aberto do início do filme vão minguando à medida que os dois amigos perdem a liberdade de serem como são. Pressionados, por um lado, pela confusão emocional típica da puberdade e, por outro, pelas convenções sociais, calcadas na agressividade e na repressão, cada um reage de um jeito.
Rémi parece não dar bola às insinuações e continua oferecendo e buscando carinho junto ao Léo. Mas este, agora, se recusa a deixar sua barriga servir de colo para a cabeça do amigo no recreio. Léo procura se ajustar às expectativas da maioria, tenta se enturmar, enquanto Rémi fica à margem, junto aos excluídos. Ainda que jamais verbalizado, há um rompimento, que machuca ambos - e, de novo, cada um reage de um jeito.
Como que para provar masculinidade, Léo entra no time de hóquei no gelo. A escolha do esporte é significativa não só pela violência característica. O gelo, obviamente, remete à frieza, ao sufocamento das emoções. O hóquei requer uma armadura, que deixa Léo com uma aparência mais forte e protege o seu peito - o seu íntimo. O uniforme simboliza o desejo de querer ser como os outros e desaparecer em grupo. Por fim, há o capacete com a máscara. Aquele já não é mais o guri doce que vivia na casa de Rémi, já não é mais o verdadeiro Léo, mas um personagem que construímos para atender aos papéis sociais. Daí o comentário emblemático de Sophie, quando vai vê-lo jogar:
- Com a máscara, é difícil reconhecer você.
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