quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023


15 DE FEVEREIRO DE 2023
CRISE FINANCEIRA

Venda de ativos, opção para Americanas

Para pagar parte de sua dívida, uma das estratégias que poderão ser adotadas pela Americanas é a venda de ativos. É o que fez, por exemplo, a operadora de telecomunicações Oi, que saiu recentemente de recuperação judicial - e está prestes a entrar em nova. Segundo especialistas, com gama variada de negócios, que inclui marcas como Submarino, ShopTime e AME (leia ao lado), a venda de ativos é uma das opções, mas há desafios a serem superados, mesmo nesse caso.

A varejista deu início ao processo de recuperação judicial em 19 de janeiro, declarando dívida de mais de R$ 40 bilhões para credores, como bancos, fabricantes de eletrônicos e fornecedores de chocolate. Com o processo de recuperação aceito pela Justiça, a empresa passará pelos ritos tradicionais, com a apresentação de plano de pagamento das dívidas após 60 dias, a ser votado em assembleia de credores.

Esse plano pode incluir a injeção de capital por parte dos sócios ou a venda de bens do grupo.

Em 2021, a Americanas uniu negócios com a B2W, que operava o comércio eletrônico da varejista, assim como das marcas Submarino, ShopTime e AME. Além disso, a rede de varejo também comprou o Hortifruti Natural da Terra no mesmo ano, em acordo de valor estimado em R$ 2,1 bilhões.

Para Eduardo Yamashita, diretor de operações na Gouvêa Consulting, a Americanas vai enfrentar cenário de mercado desfavorável durante a recuperação, especialmente, devido aos problemas financeiros que devem dificultar a aquisição de mercadorias.

- Os fornecedores serão muito mais duros nas negociações, o que vai reduzir a oferta de produtos e a demanda do consumidor vai cair. As outras varejistas veem isso como oportunidade - afirma.

Yamashita vê possibilidades de venda de ativos como dados anônimos de perfil de consumo de clientes, imóveis e marcas, como a carteira digital AME.

Renato Leopoldo e Silva, advogado especialista em contencioso empresarial cível e recuperação de empresas, diz que casos de recuperação como o da Americanas tendem a permitir a criatividade para a quitação de débitos:

- A lei é aberta. Dentro da legalidade, a Americanas tem diversas opções para apresentar formas de pagamento, como venda de ativos e aumento de capital. É comum a empresa negociar com seus credores algo que seja factível para lidar com as dívidas contraídas após o pedido de recuperação.

Filipe Denki, diretor da Comissão de Recuperação de Empresas e Falência do Conselho Federal da OAB, vê o caso da Americanas como "delicado", uma vez que tem ações negociadas na bolsa e a injeção de capital se mostra necessária diante do caixa de R$ 800 milhões.

- As demissões em massa serão inevitáveis, por causa da redução de lojas. Fora isso, deve ocorrer o fatiamento da Americanas para evitar que todas as unidades de negócios sejam afetadas. No plano de recuperação, a empresa pode prever unidades produtivas isoladas, que podem ser vendidas. É um processo de cisão. No caso da Oi, a telefonia celular foi vendida para operadoras, e o negócio de fibra óptica foi para o BTG - diz.

Bancos

A Americanas e os bancos credores devem se reunir amanhã. O encontro será apenas de presidentes (CEO) e diretores financeiros (CFO) dos bancos, o que aumenta a expectativa pela apresentação de proposta mais concreta, seja de capitalização da rede ou de renegociação das dívidas.

O banco Rothschild, que assessora a Americanas, convocou a reunião, e a expectativa é que algum membro do trio de acionistas de referência - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles - participe, embora a presença não esteja certa ainda.

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