O poder apaixonante do riso
Lembro que, certa vez, uma colega de jornalismo apresentou seu novo namorado para a turma da faculdade. Estávamos bebendo num restaurante mexicano. Ele parecia atencioso, carinhoso, amável.
Depois de alguns shots de tequila, qualquer história contada passou a ser muito engraçada, e o namorado desandou a rir como se fosse engasgar. Como se a voz dele tivesse sido tocada pelo gás hélio. Ele uivava com um timbre infantil. Um lobo mirim asmático. Até que todos começaram a rir da risada incomum dele e ele ria ainda mais da nossa risada. Naquela noite, perdemos o ar de doer a barriga.
A amiga, antes entrosada e à vontade, testemunhando a parceria entre todos, mergulhou num cenho irreversível. O romance entre eles terminou ali. Naquelas bordas salgadas dos pequenos copos. Azedou com o limão. Simplesmente porque a amiga não teve crush com a gargalhada do rapaz.
Falei para ela que aquilo não era motivo para uma ruptura, que estava sendo excessivamente exigente diante de uma banalidade. Ela me respondeu, taxativa: - Se eu não gosto do riso dele, como é que vou fazê-lo feliz?
Havia preconceito em sua atitude, mas também uma dose forte de verdade. Um dos pré-requisitos para namorar - e pouca gente fala disso - é gostar da gaitada da pessoa. É preciso se apaixonar pela alegria. É preciso se apaixonar pela festa da alma. O riso é o recreio das linhas faciais, o apogeu da espontaneidade, o ápice da liberdade individual.
É essencial se apaixonar pelo jeito como a pessoa sorri para as fotos, como pronuncia com a boca em curva e mostra os dentes na mesa, na intimidade, na roda de samba, no boteco. Mais do que se deslumbrar com o beijo ou a conversa, a exigência é ser arrebatado pelo modo como a pessoa ri.
Não é possível se envolver sem admirar o som do contentamento. O riso é decisivo. O riso é seletivo. O riso é a química maior da convivência. Não pode ser reprimido como um espirro. Não pode ser de terror como uma crise de apneia. Não pode ser rápido a ponto de ninguém percebê-lo.
Não pode ser frustrado como uma praia adiada pela chuva. Há quem ri silenciosamente, aumentando o volume aos poucos. Há quem se joga escandalosamente na primeira nota, como um trompete. Há quem ri espaçadamente, com intervalo comercial. Há quem ri como um aplauso ao final, quando finalmente entende a piada.
No mundo, há um riso compatível com o seu, uma alma gêmea de sua felicidade. Deve procurá-la. O que pode desagradar a uns pode agradar a outros. Existe um riso esperando você, tipo amor à primeira risada. Um riso fofo. Um riso gracioso. Um riso que você fará questão de provocar, que terá o poder de transformar o seu dia, que renovará a esperança do cuidado.
Ame o riso do pretendente antes de formalizar os laços, para ter vontade de ser sempre engraçado. Para nunca perder a animação. Para lembrar os bons momentos. Do contrário, irá preferir a tristeza para silenciar quem está ao seu lado.
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