27 DE FEVEREIRO DE 2023
ENSINO SUPERIOR
Universidades ofertam apoio à saúde mental de estudantes
Os quase três anos de pandemia impactaram a saúde mental de alunos do Ensino Superior. Estudantes de universidades, que já são naturalmente atingidos por incertezas, dúvidas sobre permanência no curso escolhido, acompanhamento da aulas, provas e pressões pessoais e profissionais passam, por vezes, a experimentar exaustão e ansiedade.
Os impactos da pandemia na saúde mental já foram tema de várias pesquisas, não só no Brasil. Uma delas, realizada pela UFPel com 2,6 mil pessoas, revelou cenários elevados de insuficiência de atividade física (67,2%), depressão (19%) e ansiedade (30%), entre outros índices alarmantes.
Os resultados foram divulgados em outubro de 2022, dentro da quarta etapa do estudo. Novos levantamentos devem ser feitos em 2023 e 2024. Não é à toa que as instituições estão atentas ao cenário e buscando ampliar os serviços gratuitos de ajuda profissional dentro dos campi.
ZH procurou as quatro maiores universidades da Capital: UFRGS, PUCRS, Unisinos e Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) - apenas esta última não respondeu.
Os serviços oferecidos pelas três primeiras mudam conforme a entidade, mas, em linhas gerais, os objetivos são os mesmos: identificar, acolher e atender, de forma gratuita, quem precisa de apoio. Na teoria, parece simples. Na prática, é um pouco diferente, começando por um ponto crucial: muitas vezes, há resistência em pedir ou aceitar ajuda.
O alerta é da assistente social Angélica da Costa, responsável pelo Núcleo de Atenção ao Estudante (NAE) da Unisinos, que existe desde 2010 e está à disposição de todos os alunos da graduação e pós-graduação dos campi de São Leopoldo e Porto Alegre:
- Observamos que é mais fácil oferecer ajuda. A maioria dos nossos estudantes chega por encaminhamento de outro colega, que já foi atendido e nos indica. Ou por algum professor que identificou algo.
Pressão
Segundo ela, a procura pelo serviço aumenta quando começa o período de provas. O mesmo ocorre em final de curso, quando há maior sobrecarga:
- Os sintomas mais comuns são ansiedade, sentimentos de tristeza, impotência e solidão. Há uma pressão, que pode vir de fora, da família, ou dos estudantes mesmos, para dar conta de tudo e ter bons resultados. Também percebemos questões pessoais e familiares. Muitas vezes, o aluno é o primeiro da família a fazer um curso superior. Alguns relatam que os pais não entendem, que encaram como perda de tempo ficar tanto tempo escrevendo o trabalho de conclusão de curso, por exemplo.
Profissionais
Percepção parecida é relatada pela pedagoga Simone Martins da Silva, coordenadora do Centro de Apoio Discente da PUCRS.
Na instituição, são três núcleos, que atuam de forma integrada desde 2019: de apoio psicossocial (onde há psicólogos e psiquiatras, por exemplo), de apoio à educação inclusiva e de apoio à aprendizagem. De acordo com ela, a demanda aumenta em fim de semestre ou de curso:
- Nesses períodos, em especial, a gente identifica ansiedade, depressão, desmotivação, adiamento das atividades acadêmicas e até ideias suicidas. O aluno chega de diversas maneiras, mas tem sido bem comum familiares, colegas e professores nos avisarem sobre alguma situação que consideram estranha, diferente ou delicada. São serviços que atuam na dimensão do cuidado com a vida e incidem diretamente na permanência, aprendizagem e participação nas diferentes atividades do campus e, principalmente, nos propósitos dos alunos ao acessarem a universidade.
Uma vez acionados, os núcleos realizam escuta e acolhimento, com um ou dois profissionais, dependendo do caso. Eles analisam a situação e realizam os encaminhamentos necessários.
- O ponto de partida é a necessidade de cada estudante. A equipe vai analisar se ele segue no centro, é encaminhado para outro setor da universidade ou até para algum profissional de fora - diz Simone.
Na UFRGS, há diversas iniciativas para os alunos de graduação e pós-graduação (ver quadro). Uma delas é o Programa Saber Viver, lançado em dezembro de 2022 e em fase de implementação, que integra diferentes políticas, serviços e ações, como foco na promoção da saúde e bem-estar estudantil.
- O objetivo é promover ambiente saudável para que o estudante possa desenvolver suas atividades e concluir a formação. Como são diferentes ações, os atendimentos também são variados. Existem atividades individuais, outras em grupo, online e presencial. Cada ação possui profissionais específicos: algumas são com psicólogos, outras são profissionais capacitados por psiquiatras e psicólogos, outras são estudantes orientados por professores de psicologia - destaca Ludymila Barroso Mallmann, pró- reitora de Assuntos Estudantis.
VANESSA FELIPPE
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