28 DE FEVEREIRO DE 2023
NÍLSON SOUZA
Perto do nosso céu
Convidado por um companheiro de caminhadas, encarei uma trilha no feriadão de Carnaval e subi o Morro do Osso, na Zona Sul da Capital. Fomos pelo acesso mais íngreme, cerca de 30 minutos de marcha entre árvores e escadarias de troncos, até o platô que serve de mirante para a cidade emoldurada pelo Guaíba e pelo céu mutante de fevereiro. Porto Alegre, vista do alto de seus morros, é sempre uma obra-prima de beleza e encantamento.
Nestes dias sombrios em que as montanhas derretem sobre casas e vidas no centro do país, nossas elevações de solo granítico parecem mais firmes e seguras, principalmente depois da longa estiagem que afeta o Estado. A capital gaúcha, pelo que pesquisei, tem 44 morros, alguns deles abertos à visitação pública. O Morro do Osso não é dos mais altos, apenas 143 metros, mas oferece uma visão privilegiada de vários bairros e também de outros montes encravados nesta metrópole prestes a completar 251 anos.
Dizem os contadores de histórias que seu nome tem duas supostas origens. Uma refere-se à descoberta no local de resquícios de um antigo cemitério indígena. A outra, mais folclórica, dá conta de que aquele espaço verde era utilizado por praticantes do jogo do osso, pois do alto era mais fácil observar a movimentação da polícia, já que se tratava de uma atividade clandestina.
Também não faltam lendas urbanas para aumentar a atratividade do recanto. A mais conhecida é a da caverna denominada Toca do Sapateiro, onde um indivíduo que consertava calçados teria se escondido da polícia depois de matar a mulher. Outra está relacionada à pedra chamada de Pé de Deus, que possui uma rachadura em formato de pegada supostamente com poderes curativos para quem lá encaixar o próprio pé. Por fim, também integra o Parque Natural do Morro do Osso o bairro denominado Sétimo Céu, expressão religiosa pra lá de emblemática.
Não vi bugios ruivos na minha travessia pelo caminho das árvores até o alto do morro. Dizem os textos turísticos que eles andam por lá, assim como outros animais e aves que costumeiramente habitam a vegetação das nossas encostas. Acho que os bichinhos estavam de folga no Carnaval, pois encontrei apenas um pica-pau e algumas borboletas com suas fantasias coloridas, provavelmente também voltando da folia.
O mais importante, porém, estava lá - e está ao alcance de quem se dispuser a encarar a suave subida: uma visão singular desta cidade amada e dos seus múltiplos céus que um dia o poeta Mario Quintana cogitou levar para o Céu.
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