sexta-feira, 29 de maio de 2020



29 DE MAIO DE 2020
CAPA

Uma multidão no fim da fila

Empresários do setor cultural se organizam para retomada dos shows musicais, sem data definida

Arena do Grêmio, Beira-Rio, Pepsi On Stage, Opinião, Auditório Araújo Vianna, Theatro São Pedro, Teatro do Bourbon Country e outros palcos importantes de Porto Alegre habituados a receber grandes nomes da música nacional e internacional foram silenciados pelo coronavírus. Há mais de dois meses não recebem shows e não há prazo para voltarem a abrigar eventos com aglomerações.

No Brasil e no mundo, este segmento do setor cultural, fortemente atingido pela paralisação imposta pela covid-19, ocupa o fim da fila no cronograma de retomada das atividades. Sabe-se que será uma volta gradual e cercada de cuidados que devem reconfigurar o negócio.

Apesar das incertezas e no aguardo de orientações dos governos estadual e municipal, o setor se mobiliza para as adequações necessárias. Neste mês, o grupo Live Marketing RS, criado em 2017, que envolve 340 empresários do segmento de shows e entretenimento do Rio Grande do Sul, voltou a se reunir. Segundo um de seus organizadores, Rodrigo Machado, sócio-diretor da Opinião Produtora, que administra o Opinião, o Pepsi On Stage e o Araújo Vianna, o primeiro passo antes de enviar qualquer sugestão para os governos foi radiografar as especificidades do setor no Estado.

- Nosso tema de casa foi separar os tipos de eventos. Até então, um espetáculo em casa de show era igual ao da boate, do teatro, de um evento corporativo e do evento de rua, por exemplo. Separamos em subtipos e, para cada um deles, sugerimos protocolos específicos - explica Machado.

No documento, os empresários listaram prevenções que estão sendo tomadas para quando shows e eventos do gênero forem liberados: máscaras para o público e colaboradores, distanciamento entre as pessoas, limite de ocupação do espaço, atendimento diferenciado para grupos de risco, higienização de ambientes e equipamentos de proteção obrigatórios.

Machado descarta especular sobre como serão os novos formatos, pelo fato de que as autoridades é que definirão as normas:

- Vão analisar os protocolos que enviamos e nos mandarão as considerações em cima das propostas. O que disserem que temos de fazer, faremos. Quando as casas forem autorizadas a reabrir, teremos dois tipos de segurança: a biológica, de saúde, e a psicológica, pois as pessoas têm que entender que estarão entrando em local seguro.

Carlos Branco, produtor cultural da Branco Produções, responsável por shows na Capital e Região Metropolitana, afirma que ainda tem esperança de realizar em setembro o primeiro evento dos que foram transferidos.

- Mas vai depender da evolução do vírus e dos protocolos das secretarias estaduais e municipais de Saúde, visando a garantir a saúde de nosso público.

Branco afirma que, assim que acontecer a reabertura de locais, pretende se reunir com os responsáveis para traçar estratégias:

- Esperamos que o Rio Grande do Sul continue a ter bons resultados em sua política pública em relação ao vírus. No momento, estamos retomando a programação musical do Instituto Ling, onde fazemos a curadoria e a produção, no formato online.

Segurança

A médica Maria Eugênia Bresolin Pinto, doutora em Epidemiologia e integrante do Comitê Técnico de Informações Estratégicas e Respostas Rápidas à Emergência em Vigilância em Saúde Referente ao Coronavírus da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), alerta:

- Vamos chegar no momento em que os eventos de lazer poderão voltar, mas temos um passo anterior, que será a abertura das escolas e das universidades. Aí, testaremos, inclusive, a maturidade dos jovens em seguir ações de prevenção. Mas também veremos se não terá uma piora dos indicadores e a necessidade de darmos um passo atrás.

A especialista ressalta que as atividades com aglomerações devem ser as últimas a serem liberadas:

- Mas têm suas peculiaridades. Uma sessão de cinema é muito diferente de um show em casa noturna. Talvez shows em ambientes abertos, longe do inverno gaúcho, possam ocorrer. Em alguns parques europeus, estão sendo desenhados círculos nos gramados para delimitar o espaço de cada pessoa. Mas imagine isso no Anfiteatro Pôr do Sol, com as pessoas ingerindo bebidas alcoólicas. Não acredito que seria respeitado.

Maria Eugênia destaca ainda que, além dos cuidados básicos para reduzir o risco de transmissão da covid-19, devem ser observados outros fatores para que os shows voltem a ocorrer:

- Os locais onde ocorrem estas atividades, normalmente, são fechados, e isso gera outros cuidados, como manter janelas abertas para circular o ar, cuidados com os sistemas de refrigeração. A capacidade (do local) também deverá ser reduzida, os funcionários deverão usar protetores faciais e máscaras, entre outros ajustes que teremos que verificar de acordo com a evolução desta doença no Estado e na cidade.

JOSÉ AUGUSTO BARROS

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