sábado, 23 de maio de 2020


23 DE MAIO DE 2020
MONJA COEN

MÃOS EM PRECE


Unir palma com palma. Dedos unidos. Nada a esconder. Lado direito e lado esquerdo juntos. Presença pura. O maior presente é a presença. Sem dualidades. Duas mãos formam um gesto. Gesto de entrega, de respeito, de devoção, cumprimento, reconhecimento.

Um de meus professores no Mosteiro Feminino de Nagoya, o Reverendo Monge Mano Kampo Roshi dizia: "Quando colocamos as mãos palma com palma não estamos fazendo nada errado, nada escondido. Quem consegue fazer esse gesto manifesta o estado de um ser iluminado".

Você consegue? Consegue colocar as mãos em prece?

O gesto é a ação. A ação é a realização. No início, apenas um gesto. Depois uma postura: corpomente unidos. Quando duas mãos se tornam uma atitude, que pode transformar o mundo. Teclando, servindo, recebendo, dando, compartilhando, cumprimentando, acolhendo.

Olho no olho. Sem esconder a face, sem esconder nada. Cumprimento adequado para a não contaminação. Cumprimento benéfico para o encontro verdadeiro de quem nada tem a temer.

Vamos, venha comigo. Vamos nos reconhecer pessoas humanas. Sendo humanas somos sagradas.

O que separa você da pureza? Vamos, junte as palmas de suas mãos.

Oremos por todos que já morreram - que não tenha sido em vão. Roguemos pela descoberta de remédios que curem, sem efeitos colaterais, as várias doenças relacionadas ao coronavírus.

Com as mãos unidas, agradecemos às heroínas e aos heróis que se expõem para que possamos ficar em casa: são médicas e médicos, enfermeiras e enfermeiros, auxiliares, grupo administrativo de hospitais e centros de atendimento, grupo de limpeza e de cozinha, motoristas de ambulâncias e carros fúnebres, policiais, bombeiros, garis, lixeiras e lixeiros, pessoas que trabalham com alimentos e remédios - desde quem planta, colhe, revende, transporta. Fábricas de medicamentos e de alimentos.

Muita gente trabalhando para que uma grande parte possa ficar em casa e evitar a contaminação que causaria o colapso da rede de saúde do país.Vamos colocar as mãos unidas, dedos retos para o céu. De longe nos cumprimentaremos, de máscara nos reconheceremos pelos gestos, atitudes, tom de voz, movimento muscular, olhos que expressam o que muitas vezes não sabemos expressar.

Que sejam encontros de ternura e de acolhida. Solidariedade e cooperação. Percebemos que não vivemos isolados, mas o isolamento é pleno cuidado uns com os outros. Tenha paciência e resiliência. Sem beijos, sem abraços, sem cheiros, sem afagos.

Por amor e com amor, por respeito à vida e à saúde, lembrem-se de como deve mover suas mãos, seu coração, seus olhos, sua mente. Sem julgamentos e aversões. Sem apegos e apertões. Momento de reconhecer o sagrando em cada ser. Respire profundamente e caminhe com serenidade. Está tudo errado e está tudo certo, tudo bem. Podemos ter tranquilidade em meio a pandemia. Sorria.

Somos a vida da Terra - girando sem parar e sem voltar atrás.

Adiante o futuro será o que construirmos agora - com atitudes e pensamentos, palavras e comportamento.

Lembre-se das máscaras, das luvas, das proteções oculares. Lembre-se de não colocar as mãos nos olhos, nas narinas, na boca, na face.

Mantenha distância - isso é proximidade e intimidade. Cuidem-se cuidando de todos nós.

Somos uma, sendo duas. Nem duas, nem uma. Como você fica? Como você faz? Mães em prece. Monja Coen escreve a cada 15 dias neste espaço.

Na próxima semana, leia a coluna de Bruna Lombardi.

MONJA COEN

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