30 DE MAIO DE 2020
BRUNA LOMBARDI
ANO DA LIMPEZA
Sou daquelas que adoram limpar gavetas, esfregar prateleiras, armários, arrumar, organizar, rever, doar, jogar fora. Sou ótima numa faxina e limpo com tamanho empenho e obsessão que dá para lamber onde eu limpei. E faço tudo com muito prazer.
Vivo como todos na correria e na pressa do cotidiano, nesse acúmulo do mundo contemporâneo, onde se junta mais do que se precisa. Manter essa ordem e organização é um desafio constante. Ando, por exemplo, soterrada de livros que compro constantemente, na certeza absoluta que um dia vou ler todos. E vou, porque não sou de desistir, mas eles andam tomando conta do meu escritório e me empurrando para um canto cada vez menor.
O planeta regente do ano passado foi Marte. Na mitologia romana, Marte era o deus da guerra. Com sua regência, passamos um ano de combate, de confrontos, de energias antagônicas, mas também de força interior e iniciativa para tomada de grandes decisões.
E foi um ano de limpeza, de renovação, de lidar com desordem externa e interna e conseguir se livrar de tudo que não precisamos mais carregar.
A limpeza começa pelas coisas materiais que nos cercam. A busca da ordem e harmonia do que temos ao redor. Eu não consigo ser produtiva se as coisas não estiverem organizadas e arrumadas em volta de mim. A desordem drena minha energia. As coisas nos lugares certos trazem beleza e serenidade. Dá trabalho, mas faz bem para o espírito.
Arrumar o exterior é uma tarefa bem mais simples do que adentrar nossas cavernas interiores. O desafio maior é sempre mergulhar dentro de nós.
Somos seres complexos e aos poucos vamos descobrir pesos que carregamos sem perceber, sem sequer enxergar que arrastamos certas correntes. Tantas coisas invisíveis, cargas emocionais que suportamos, lixos que se acumulam pesados em algum lugar do nosso espírito e que foram largados, escondidos, esquecidos, deixados sem solução.
Raiva, ódio, frustrações, ressentimentos são os nós dessas correntes atadas aos nossos pés, que impedem nossos movimentos. Mágoa é uma má água, uma água parada, que suja nosso sistema, nos intoxica.
Nos armamos de gatilhos e nos tornamos um campo minado onde já não se pode andar despreocupado e nem correr livremente.
É preciso muita coragem para entrar nesses porões da alma e acender a luz. Podemos ver o que não queremos. Podemos apagar a luz, fechar a porta e fugir.
Mas também temos em nós a capacidade de encarar de frente o que existe, calcular bem todo esse acúmulo da vida e tomar uma decisão.
Já não importa mais a razão, nem o porquê aquilo está lá. Coisas passadas, sujeiras antigas, desnecessárias. Reminiscências que juntas se compactam e formam um bloco escuro sólido, que impede a nossa leveza.
Hora de limpar. Hora de usar a nossa luz para iluminar e enxergar a nossa sombra. Hora de definir quem somos e quem seremos a partir de agora.
Podemos entrar nessa caverna sem medo, nada ali é permanente e tudo pode ter um novo significado.
Nenhuma escuridão dura para sempre. Lembrei do verso de um poema meu que diz: "Depois de toda noite vem a aurora. É hora de ver a sua brilhar".
BRUNA LOMBARDI
Nenhum comentário:
Postar um comentário