23 DE MAIO DE 2020
RBS BRASÍLIA
Só o vídeo não derruba Bolsonaro
Um show de horrores, baixarias, palavrões, falta de foco e a comprovação de que são poucos os ministros com qualificação no governo Jair Bolsonaro. O vídeo da reunião ministerial que teve o sigilo retirado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mostra tudo isso e, ainda, que o presidente da República tinha intenção de interferir na Polícia Federal. Mas não derruba Bolsonaro.
Com base nas duas frases ditas ao longo do encontro sobre a sua insatisfação com o órgão de segurança, é até possível que o procurador-geral da República, Augusto Aras, nem mesmo apresente denúncia contra o presidente. Em determinado momento, Bolsonaro reclama, sim, com todas as letras, de que a PF não repassa informações e, em outro, diz que não está satisfeito com a segurança no Rio de Janeiro e que, se for preciso, troca todo mundo.
Intenção que é reforçada com a saída do ex-ministro Sergio Moro da Esplanada e a indicação de um amigo da família para comandar a PF. Mas, em Brasília, a aposta alta é a de que Aras encaminhará um pedido de arquivamento.
Entre a denúncia de Moro e a revelação do vídeo, houve tempo para a construção de uma narrativa de Bolsonaro que só convence o público fiel. E é isso que, hoje, interessa ao presidente: manter coeso os cerca de 25% a 30% do eleitorado que aprova o estilo do atual governo. O bolsonarista clássico gostou do que viu e ouviu. Em qualquer democracia séria, um ministro da Educação jamais poderia se referir a ministros do STF como Abraham Weintraub fez durante o encontro. E quem poderia levar a sério um ministro do Meio Ambiente que confessa: enquanto a imprensa só fala em covid-19, vamos fazer passar a simplificação de normas ambientais? Ricardo Salles disse isso. A ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, falou até em colocar governadores na cadeia. Tudo isso em meio a um desfile de palavrões.
Embora o tema oficial fosse medidas contra a pandemia, Bolsonaro se preocupou em cobrar fidelidade dos ministros, com recados direcionados a Moro. Apoio ao armamento da população e medidas contra o endurecimento dos governadores no isolamento social viraram prioridade. Aos gritos, o presidente exigia lealdade.
Dos presentes, o mais sensato foi o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que apelou à necessidade de um plano contra a pandemia, livre de dogmas. Em vão. Se é que existiu, a ata dessa reunião ministerial tem uma ou duas linhas sobre ações de enfrentamento ao coronavírus. Uma confusão que não surpreende quem acompanha a rotina na capital federal: é a cara do governo Bolsonaro.
CAROLINA BAHIA
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