25 DE MAIO DE 2020
OPINIÃO DA RBS
O grande ausente da reunião
No festival de palavrões, bravatas, bazófias e autoritarismo revelado pela gravação da reunião ministerial de 22 de abril, há um grande e eloquente ausente: o plano do governo para enfrentar a maior, mais ameaçadora e urgente emergência nacional deste século. À exceção de tímidas mas ponderadas menções de uns poucos ministros, ficou evidenciado que a pandemia não faz parte da agenda central do governo. Enquanto gabinetes de todo o mundo se focam em congregar esforços no enfrentamento do inimigo comum, o presidente Jair Bolsonaro deixou claro o que espera de seu ministério neste momento: fidelidade cega, ataques a governadores e prefeitos que tentam organizar o combate à doença, armar a população e montar um setor de informações a serviço de sua sobrevivência política.
O triste espetáculo que se desenrolou no Palácio do Planalto, um local que já viu quase de tudo em termos de falta de liturgia, rompeu novos limites de descaso pelo comportamento esperado de um chefe de Estado de uma nação com a relevância do Brasil.
O fato de a verborragia de um presidente desbocado, por vezes quase fora de si, ser celebrada por sua base mais radical é mais um ingrediente na sopa de desvarios em que se transformou o exercício da Presidência em meio à pandemia.
Tivesse o presidente demonstrado real preocupação com a vida dos cidadãos, ou ao menos ter admoestado seu gabinete pela ausência de uma estratégia de enfrentamento da doença, os brasileiros poderiam se sentir um pouco mais aliviados. Mas não. O que se viu foi Jair Bolsonaro se irritar com ministros eventualmente elogiados pela imprensa, passar por cima de qualquer cobrança pela já então vertiginosa curva de crescimento da pandemia no país e ignorar a desastrosa imagem que seu governo criou para o Brasil no Exterior.
Os ministros que deram mostras de bajulação e desqualificação explícitas puderam ir dormir tranquilos naquela noite por saber que seu chefe espera deles isso mesmo: sandices e estultices que venham ser criticadas pela imprensa e segmentos sensatos, pois essa é a escala que mede o prestígio dos assessores mais próximos de Bolsonaro e lhes assegura certa estabilidade. Vê-se agora com mais clareza por que o presidente perdeu, um atrás do outro, ministros e dirigentes de primeiro escalão, muitos deles contrariados por serem repreendidos como moleques com palavras de baixo calão e argumentos rasos.
Reconheça-se que o presidente boquirroto incensado por suas bases é o mesmo personagem que fez sucesso nas redes sociais durante a campanha eleitoral, quando a coerência, a educação e o desfile de propostas sólidas não foram exatamente o prato principal. Na Presidência, porém, Bolsonaro segue se comportando como um capataz do passado que não tem a mais remota noção do que é gestão de equipe e motivação de pessoas. O presidente, que nos 28 anos anteriores governou apenas seu gabinete parlamentar, sequer faz jus ao que introjetou das Forças Armadas, hoje atualizadas e ajustadas aos modelos de gerir complexas e diversificadas equipes em busca de objetivos comuns. Como se pôde constatar na reunião do dia 22, Bolsonaro é o chefe errado na hora mais errada possível.
OPINIÃO DA RBS
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