18 DE MAIO DE 2020
INFORME ESPECIAL
No fim, todos poderão dizer que tinham razão
Disputas acirradas de narrativa são um dos principais sintomas da polarização que tomou conta do país. Quando o pico da pandemia passar, teremos milhares de mortos e uma onda de desemprego no Brasil. Lá adiante, o resultado dará motivos a ambos os lados do bate-boca para dizerem que tinham razão.
Seja qual for o número de vítimas fatais da covid-19 no Brasil, os que defendem a prioridade de isolamento dirão - com razão - que, não fossem esse e outros cuidados, teria sido muito pior. Já os que pregam a abertura da economia e o "vai pra rua" terão a crise econômica e o mesmo número de mortos a justificar que eram eles, no fim, que estavam certos.
Não há cenário positivo no médio prazo. Além disso, estamos lidando com algo novo e, nesse contexto, quem disser ter todas as respostas está errado ou mentindo. Passados dois meses da chegada do vírus ao Brasil, continuo pensando que, por enquanto, devemos ouvir mais os médicos do que os políticos e os economistas. Acredito, também, que a imensa maioria dos brasileiros quer acertar, inclusive o presidente Jair Bolsonaro, mesmo que esteja equivocado na forma e no conteúdo das suas abordagens.
A questão não é a decidir entre o bom e o ruim. E talvez por isso estejamos perdidos no debate sobre o que e como fazer. A escolha, dessa vez, é entre o péssimo e o pior ainda. Se conseguíssemos nos desarmar e conversar, todos perderíamos menos. Porque, de fato, salvo alguns setores muito pontuais, ninguém vai ganhar no médio prazo, antes que as coisas se reorganizem e um novo futuro devolva a luz à humanidade .
TULIO MILMAN
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