sábado, 20 de abril de 2019



20 DE ABRIL DE 2019
ECONOMIA

Um olho na Previdência e outro nos caminhoneiros

A paralisia da economia aumenta a atenção de economistas para dois assuntos. O primeiro, considerado essencial para começar o reequilíbrio fiscal do país no longo prazo, é a reforma da Previdência. O segundo é a ameaça de nova paralisação dos caminhoneiros.

Mesmo tendo seus efeitos práticos sentidos apenas nos próximos anos, a mudança das regras das aposentadorias é considerada um gatilho para a retomada da confiança e a liberação dos investimentos.

- A estabilidade macroeconômica do país depende da reforma da Previdência. É necessária para termos crescimento neste ano e nos próximos. Em 2019, seria mais pelo impacto na confiança e pelo destravamento de investimentos - afirma Luana Miranda, pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Economista-chefe da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro observa que, apesar de a Previdência ser a prioridade, o governo também deveria encaminhar outras pautas de forma paralela, como uma reforma tributária e avanços nas concessões.

- Mas, sem a reforma da Previdência, não se garante uma coisa básica, que é o pilar fiscal. Então, não adianta ter uma agenda microeconômica um pouco melhor sem mudar a Previdência - destaca Alessandra.

O governo federal encerrou 2018 com déficit primário (sem contar os juros) de R$ 120,2 bilhões. Foi o quinto ano consecutivo de resultado negativo. Apenas a Previdência teve rombo R$ 195,2 bilhões. O parecer da reforma seria votado na semana passada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, mas a sessão teve de ser encerrada devido ao tumulto e à falta de acordo na sessão, em mais um episódio considerado uma derrota do Planalto no parlamento.

UMA NOVA GREVE JOGARIA TUDO FORA

Em meio à espera por melhor articulação do governo para tentar aprovar a reforma, uma preocupação de mais curto prazo voltou a assombrar: a possibilidade de nova paralisação dos caminhoneiros. A greve, em maio de 2018, foi considerada fator essencial para abortar o início de recuperação da economia observada nos primeiros meses daquele ano. No mês, a atividade teve retração de 3,34%, de acordo com o IBC-Br, espécie de prévia do PIB, apurado pelo Banco Central.

- Uma nova greve dos caminhoneiros jogaria tudo fora - diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes, referindo-se às expectativas ainda existentes de expansão do PIB mais forte do que o ano passado, de 1,1%.

Para Alessandra, da Tendências, apesar de a principal razão da insatisfação dos caminhoneiros ser o preço do diesel, a causa do desequilíbrio é mais profunda.

- O pano de fundo é um excesso de oferta, muitos caminhoneiros, e de outro lado a demanda fraca. Isso joga o preço (do frete). E eles têm pouca margem para absorver o aumento do diesel. Soluções artificiais não adiantam. As empresas acabam internalizando esta função também - resume a economista, aludindo à busca das companhias por formar uma frota própria para driblar exigências como preços mínimos do frete.

"A questão é que agora as pessoas estão com dúvidas sobre a capacidade de articulação do governo para aprovar as reformas e ter uma agenda mais liberal da economia, prometida no período eleitoral."

Luana Miranda, Pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV

"O mercado de trabalho está muito lento, fraco, com níveis recorde de subutilização da mão de obra e desalento. Isso afeta setores que precisam do consumo para se recuperar."

Fabio Bentes, Economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)

"O contexto da atividade econômica global não é favorável, mas olhando para a nossa realidade, acho que há frustração com o início do governo."

Alessandra Ribeiro, Economista-chefe da Tendências Consultoria

Fontes: IBGE, BC e FGV

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